Censura a Chico Pinheiro confirma preferência da Globo
por ditadura

Por Alex Solnik (*)
Agora que a Globo alcançou seu
grande objetivo político que era mandar Lula para a prisão e assim impedir a
sua terceira vitória na eleição presidencial, a grande preocupação é mantê-lo
preso de preferência perpetuamente.
É o que explica o ataque de seu diretor de Jornalismo Ali Kamel aos
comentários em áudio do apresentador Chico Pinheiro que questionaram a
legalidade das acusações a Lula e até a cobertura visivelmente parcial da
emissora nesse episódio.
Kamel advertiu claramente que vozes dissidentes não serão toleradas nesse
momento em que se quer convencer os brasileiros de que Lula foi preso por ser o
maior ladrão da história do mundo e não para impedir sua candidatura
presidencial tão temida pela Globo.
A Globo precisa e quer destruir Lula. E aí vem a primeira pergunta
incômoda: uma rede de TV pode fazer política? Uma rede de TV pode fazer
campanha para destruir presidentes? A lei das telecomunicações permite?
A Globo quer destruir Lula – para início de conversa - porque ele é o
político mais popular do país e ninguém pode ser mais popular que a Globo,
muito menos algum político.
Se for barbudo, petista e tiver nove dedos, nem se fala.
A Globo precisa ter o monopólio da popularidade para impingir suas
condições leoninas aos patrocinadores e pressionar diariamente, 24 horas por
dia, vereadores, prefeitos, deputados, ministros, a Polícia Federal, o MPF e o
STF, a Câmara dos Deputados e a presidência da República, usando como fachada
as suas novelas e shows para entreter a massa ignara, como também as premiações
de fim de ano àqueles que vão merecer a sua proteção, desde que não a
confrontem, para entreter a elite inculta e bárbara.

Jornalista Chico Pinheiro questionou a legalidade das acusações a Lula e foi censurado
A Globo cresceu e enriqueceu seus donos, a família Marinho, durante a
ditadura militar. Foram 20 anos de prosperidade. Em 33 anos de democracia não
foi a mesma coisa.
A explicação é simples: os ditadores precisavam mais da Globo que a Globo
deles. E pagavam o que fosse preciso pelos serviços prestados. Precisavam dela
para anestesiar a população por meio de lavagem cerebral até torná-la apática e
convencida de que as ditaduras são benfazejas.
Como um regime de força não consegue se manter por muito tempo sem uma
forte máquina de propaganda, esse serviço fica muito mais caro do que numa
democracia, que não precisa da Globo para sobreviver.
A Globo prefere a ditadura por ser um ambiente mais propício a negócios
(escusos), ambiente no qual pode impor as suas próprias regras que podem ser
contestadas no regime democrático.
A Globo prefere a ditadura porque na democracia seu monopólio pode um dia
ser contestado e para desligar o sinal, como já vimos no passado, é pa-pum.
A Globo prefere a ditadura porque na democracia algum dia irão questionar
se é normal uma emissora comandar uma rede de centenas de outras emissoras de
TV, rádio, jornais e revistas.
Irão questionar se é democrático uma emissora tornar-se a dona da seleção
brasileira de futebol e do maior carnaval do mundo e das maiores verbas
publicitárias.
Na ditadura, o governo precisa mais da Globo que a Globo do governo. Na
democracia, a Globo precisa mais do governo que o governo da Globo.
E quem gosta e precisa de uma ditadura precisa manter a sua ditadura
interna.
Precisa manter a sua censura interna, como Kamel advertiu.
Durante a incansável campanha para derrubar Dilma algumas pessoas
imaginavam que a Globo queria fazer isso porque estava com Temer. Será? A Globo
não está com ninguém. Está com o lado de onde puder lucrar mais.
A partir de maio do ano passado, a Globo claramente colocou todas as suas
tropas na linha de frente com o propósito de atacar Temer. E Temer foi atacado
de todas as formas possíveis e continua sendo.
Ah, foi porque ele não fez a reforma da Previdência e Maia em seu lugar
poderia fazer? Foi retaliação do Projac?
Pode ser. Acabar com as aposentadorias dos brasileiros estava e continua
na agenda da Globo. Mas também pode ser uma forma de pressionar o governo para
se livrar de multas ou obter determinados benefícios.
Para que derrubar um governo fraco se um governo fraco é mais vulnerável a
pressões?
A outra hipótese para a blitzkrieg contra Temer pode ser a criação de um
clima favorável a se tornar necessária uma intervenção militar para estabelecer
a ordem.
Com Lula o caso é diferente. A Globo quer destruir Lula por saber que no
próximo governo ele não será tão condescendente com ela como foi no passado e
não vai fechar os olhos à sua atuação no campo político, vedada segundo as
regras das telecomunicações, dentre outros fatos desabonadores já revelados
timidamente no escândalo da Fifa em que caíram Marin, J. Hawilla, Ricardo
Teixeira e outros figurões, todos com laços estreitos com a Globo.
A Globo quer destruir Lula antes de ser destruída por ele.
Dentro da lei, que a Globo não cumpre.
(*) – Alex Solnik é jornalista e escritor. Já atuou em
publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e
Manchete. É autor de treze livros. Art. publicado em Brasil 247, em 10/04/2018
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