Maduro se
reelege em votação contestada dentro e fora da Venezuela
Nicolás Maduro, em pronunciamento, após a eleição
(Foto: Divulgação Yahoo Notícias)
Em votação marcada pelo baixo
comparecimento e não reconhecida pelo seu principal adversário, o ditador
venezuelano, Nicolás Maduro, 55, foi reeleito neste domingo (20) para um novo
mandato de seis anos, segundo o CNE (Conselho Nacional Eleitoral).
Com 92,6% das urnas apuradas, o chavista obteve mais de 5,8 milhões, ou
67% dos votos válidos, contra pouco mais de 1,8 milhão (21%) para o
oposicionista Henri Falcón. Em terceiro, ficou o pastor evangélico Javier
Bertucci, com 925 mil (11%).
A abstenção chegou a 54%. Na eleição presidencial anterior, em 2013, esse
percentual foi de 20,3%.
A vitória oficialista ocorre apesar de o seu governo ser rechaçado pela
maioria da população, segundo as pesquisas de opinião mais confiáveis, que
colocavam o ex-chavista Falcón como favorito.
Pouco antes do anúncio do resultado, Falcón acusou Maduro de usar a
máquina estatal para vencer o pleito. "Não reconhecemos este processo
eleitoral. Para nós, não houve eleições, é preciso fazer novas eleições na
Venezuela."
Com o resultado, o chavismo, no poder desde 1999, aparenta ganhar uma
sobrevida, em meio à mais grave crise econômica da história venezuelana.
O triunfo de Maduro diminui as chances de a Venezuela reverter seu agudo
processo de deterioro. Em recessão desde 2013 -e com uma hiperinflação de mais
de 13.779%, a penúria do país tem levado centenas de milhares de pessoas a
emigrar, fugindo da fome e da violência.
Sem a participação dos principais líderes oposicionistas, declarados
inelegíveis, a eleição de domingo não é reconhecida pela União Europeia, pelos
EUA, pelo Canadá e pela Colômbia, entre outros países.
O Brasil, que teve seu embaixador expulso de Caracas em dezembro, vem
criticando a escalada autoritária na Venezuela e não reconhece a legitimidade
do pleito, mas avalia que precisa manter um relacionamento mínimo para tratar
de temas bilaterais com o país vizinho.
Em 14 de maio, o Grupo de Lima, do qual o Brasil faz parte, exortou a
Venezuela a suspender a eleição por não ter a participação de toda a oposição e
pela falta de observadores internacionais independentes, entre outros
problemas.
O dia foi marcado pela pouca presença de eleitores nos centros de votação,
mesmo nos redutos chavistas.
"O que a gente ganha não dá nem pra comer, quem vai se entusiasmar
com essa eleição?", disse o pintor de carros Jesús Pereira, 80, registrado
no liceu Manuel Palacio Fajardo, o mesmo do presidente Hugo Chávez, morto em
2013.
Morador do bairro 23 de Enero, maior bastião do chavismo do país, Pereira
afirmou que "todos estão saindo do país como os pássaros. Quem pode, vai
embora."
A movimentação de eleitores
era mínima no local pela manhã. A reportagem da Folha contou apenas
29 pessoas entrando no prédio do liceu entre as 8h03 e as 8h13.
Desses, oito desembarcaram da
boleia de um caminhão da Fontur ( Fundo Nacional de Transporte Urbano), do
governo federal. A prática é ilegal pela lei eleitoral.
A maioria dos eleitores era de
idosos. Após votar, eles se dirigiam ao Ponto Vermelho, instalado do outro lado
da rua, sob um pequeno toldo. Ali, funcionários escaneavam o Carnê da Pátria,
com o qual o portador tem acesso a cestas básica, atenção médica, entre outros
benefícios e serviços públicos.
Numa tentativa para atrair
eleitores, Maduro prometeu pagar um bônus a quem apresentasse o Carne da Pátria
nos Pontos Vermelhos, montados perto e até mesmo dentro dos centros de votação.
Segundo relatos dos próprios eleitores, o valor será de 10 milhões de bolívares
(US$ 11).
Vestida com uma calça
estampada com a bandeira venezuelana, a chavista Milagros Ramírez, 53, disse
que a falta de filas se devia ao processo mais rápido de votação.
Ela atribui a crise econômica
venezuelana aos empresários, que estariam promovendo uma guerra econômica
contra o chavismo. "Isso não está fácil, mas temos de continuar apoiando
do governo", diz a técnica de recursos humanos aposentada por invalidez.
Após votar, o principal
candidato da oposição, o dissidente chavista Henri Falcón exortou o CNE
(Conselho Nacional Eleitoral), servil ao governo, a fechar os Pontos Vermelhos,
acusando-os de "mecanismo de controle" dos eleitores.
"Exigimos jogo limpo e
transparência", acusou o ex-governador de Lara, que lidera as pesquisas de
opinião mais confiáveis. "Não podemos permitir essa chantagem."
O CNE, no entanto, não tomou
nenhuma medida sobre os Pontos Vermelhos, que vêm sendo usados pelo chavismo em
eleições recentes.
Na zona leste de Caracas, zona
antichavista que concentra bairros de classe média e alta da capita
venezuelana, os centros de votação pareciam ainda mais vazios.
A falta de eleitores se deve
em parte à campanha da coalização oposicionista MUD (Mesa da Unidade
Democrática) pela abstenção. Seus principais líderes, Henrique Capriles e
Leopoldo López, foram impedidos de concorrer.
No Colégio San Ignacio, no
bairro nobre La Castellana, apenas dez eleitores apareceram para votar entre as
9h29 e as 9h39 _um por minuto. Ali, não havia um Ponto Vermelho.
"Não que eu goste de
Falcón, mas a outra opção é uma fantasia de que os EUA vão invadir a Venezuela.
Isso não vai acontecer", diz o advogado Henrique Castillo, 41.
Em tom de brincadeira, disse que sua
mulher deixou de falar com ela porque decidiu votar. "Mas não creio que a
abstenção seja uma demonstração de força."
De Caracas, Venezuela (Folhapress), Fabiano Maisonnave, em 21/05/2018, às 04h55
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