Em novo episódio, crise
entre STF e Moro se intensifica
Sérgio Moro, juiz federal, soltou novo despacho
ironizando cobrança do STF
(Foto: Marcelo Camargo/ABR)
Principais personagens da Operação Lava Jato no âmbito judicial
protagonizaram mais um episódio que intensifica a crise entre instâncias
jurídicas.
Após a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) conceder
liberdade a José Dirceu, na semana passada, o juiz Sérgio Moro determinou que o
ex-ministro deveria usar tornozeleira eletrônica mesmo com liminar de soltura
do STF.
A decisão, no entanto, acabou sendo revogada pelo ministro Dias Toffoli,
que integra a Segunda Turma na Corte.
No despacho, o ministro Toffoli escreveu que “o STF, sob pena de se
comprometerem as elevadas funções que a Constituição lhe conferiu, não pode ter
seus julgados desobedecidos” e que Moro tomou uma “decisão com extravasamento
de suas competências” ao determinar o uso da tornozeleira.
Em resposta e em tom de ironia, o juiz argumentou que “não se imaginava”
que a própria maioria da Segunda Turma, que havia entendido antes “apropriadas
as medidas cautelares”, teria passado a entender que elas, após a confirmação
na apelação da condenação a cerca de vinte e seis anos de reclusão, “teriam se
tornado desnecessárias”. “Entretanto, este Juízo estava aparentemente
equivocado”, se posicionou.
Um dos procuradores da República mais conhecidos no País, pela fama
conquistada na Lava Jato, Deltan Dallagnol foi ao Twitter mais uma vez para
criticar a liminar concedida por Dias Toffoli.

Dias Tofolli, ministro do STF, exigiu cumprimento de
decisão pelo juiz
(Foto: Carlos Moura/STF)
Aos seguidores, ele questionou a decisão do ministro já que o plenário
do STF permite prisão em segunda instância e alfinetou o magistrado.
“Naturalmente, cautelares voltavam a valer agora, Toffoli cancela cautelares de
seu ex-chefe”, em referência à indicação do PT do então advogado Dias Toffoli a
uma vaga de ministro do STF no governo do ex-presidente Lula. Dirceu foi
ministro-chefe da Casa Civil de Lula.
Em entrevista ao O POVO, o
presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), José
Robalinho, descartou crise instalada no âmbito jurídico e que as últimas
decisões do juiz e do ministro fazem parte do funcionamento das instituições
democráticas. Robalinho, por outro lado, acompanhou a crítica de Dallagnol e
argumentou que a decisão do magistrado foi um drible à jurisprudência da Corte.
“Ele deu decisão contrariando o próprio plenário do STF que admite o
cumprimento da pena a partir da condenação em segunda instância”, pontuou.
Rebatendo as declarações públicas de Dellagnol, a Associação dos Juízes
Federais do Brasil, a Associação dos Magistrados Brasileiros e a Associação
Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho emitiram nota em conjunto
endurecendo posicionamento contra as críticas públicas à decisão do ministro do
STF.
A nota diz que “a independência judicial é um valor imprescindível para
qualquer democracia e as decisões judiciais precisam ser observadas e
cumpridas, tenham sido elas proferidas por juízes, desembargadores ou Ministros
dos Tribunais Superiores”.
O texto diz que “não é aceitável que aqueles que exercem funções
essenciais à Justiça, com o objetivo de deslegitimar a autoridade das decisões
e macular a honra de seus prolatores, teçam críticas de natureza pessoal aos
Membros do Poder Judiciário, atingindo a integridade da instituição”.
Por Wagner Mendes, O
Povo-Fortaleza (CE), em 04/07/2018


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