Toffoli afirma que o resultado das urnas
será respeitado, independente de quem vencer

O
novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Antonio Dias Toffoli, afirma
que o resultado das urnas, qualquer que seja, será respeitado por todas as
instituições do país, inclusive pelas Forças Armadas. Para Toffoli, a crise
política do Brasil é complexa, mas a eleição tende a 'reorganizar' o tecido
democrático. O novo presidente do STF ainda afirma que as votações importantes
com a que discute a prisão em segunda instância serão retomadas no momento
oportuno e que a posição da corte não está 'fechada' a respeito do tema.
Em
uma longa entrevista às jornalistas Mônica Bergamo e Letícia Casado do jornal
Folha de S. Paulo, o novo presidente do STF perpassou muito temas polêmicos que
estão na ordem do dia no país, uma vez que a crise institucional e política que
se alastrou neste período pós golpe e, agora, eleitoral, tomam conta do imaginário
social brasileiro.
Toffoli
mostra que não está para brincadeiras e que será muito mais do que uma
presidente decorativa como foi Cármen Lúcia. Ele tem clareza a respeito da
tripartição de poder prevista pela constituição e pretende levá-la a o pé da
letra.
O
ministro comenta os assuntos mais delicados e espinhosos sem demonstrar
qualquer tipo de receio ou rabo preso. Nascido em Marília (SP), Antonio
Dias Toffoli se formou em direito pela USP. Foi nomeado ministro do STF em 2009
pelo ex-presidente Lula. Ele foi advogado-geral da União e subchefe para
Assuntos Jurídicos da Casa Civil nos governos Lula. Assessorou o PT no
Legislativo e foi consultor da CUT. É o mais novo ministro do STF a assumir o
cargo.
O
novo presidente do STF comentou vários temas, sendo que o mais relevante para o
momento dramático vivido pelo país é relativo às eleições. Toffoli afirma
que o resultado das urnas será respeitado, inclusive por militares:
"o batismo da urna legitima os poderes. Aquele que for eleito em
uma democracia tem que ser respeitado por todas as forças políticas e por todos
os opositores.
(...)
Mas
penso que os candidatos e todas as forças políticas e da sociedade, depois
deste período de intensa gravidade, estão conscientes de que o respeito à
democracia e ao eleito é fundamental para o Brasil voltar os olhos para o
desenvolvimento e para os graves problemas que temos de desigualdade regional,
social, de saúde e de educação.
Todas
as forças políticas, uma vez terminada a eleição, devem respeitar o jogo
democrático, apoiando ou fazendo oposição [ao governo eleito]".
Ele
frisa que as Forças Armadas compreendem perfeitamente do que se trata a
democracia e quais os valores que estão em jogo neste momento: "as Forças
Armadas sabem da grave responsabilidade das funções que têm e respeitam a democracia,
a Constituição e as leis. Qualquer que seja o resultado, será respeitado".
Sobre
a prisão em segunda instância, Toffoli afirma: "nenhum voto é certo. Não
sei nem se o meu vai permanecer o mesmo [ele é contra a prisão em segunda
instância e votou a favor de Lula]. Uma coisa é você ser o juiz na bancada,
outra é ser o presidente do tribunal. Nesta condição, não pode partir das
premissas pessoais, mas da instituição".
(...)
Como
presidente, vou ter sempre um olhar institucional. Vi aqui muitos presidentes
que votaram contra aquilo que votariam na bancada, para evitar um impasse no
julgamento. Uma nação se faz com instituições fortes. As pessoas passam,
as instituições ficam. O presidente do STF tem que preservar as questões
institucionais acima de seus desejos ou vontades pessoais".
Toffoli
comentou os 'laços' que supostamente uniriam ministros do STF aos presidentes
que os indicaram: "os juízes, e mais especificamente os ministros do STF e
do STJ (Superior Tribunal de Justiça), são vitalícios exatamente para ter
independência e autonomia. Estão subordinados às leis e à Constituição. Não têm
mais nenhuma relação com o passado. Como eu disse em minha posse, essa Casa
transforma todo mundo. Ninguém entrou aqui e permaneceu com as mesmas ideias,
as mesmas convicções ou posições. A instituição é mais forte do que nós".
O
novo presidente do STF deixa claro também um ministro da corte deve aguentar a
pressão: "toda pessoa que vai assumir este cargo já começa a se
transformar no período da indicação. A sua vida é vasculhada. É um grande
teste. E tem que ser assim. Se a pessoa não suportar isso, como eu disse, pede
pra sair. Nunca processei imprensa. Mas tem questões às quais não é
necessário responder porque não são verdadeiras".
Sobre
o juiz Sergio Moro, Toffoli afirma: "já mantivemos várias decisões
proferidas pelo doutor Moro que foram objeto de recursos. E outras, não. Isso
acontece com todo mundo. Às vezes tomo uma decisão e fico vencido porque a
maioria dos colegas entendeu que eu não estava na melhor posição.
E
sobre a Lava Jato, o novo presidente destaca: "a operação começou em 2014.
As leis [como a da delação premiada e a tipificação do crime organizado, que
possibilitaram as investigações] foram aprovadas em 2013. Quem aprovou? O
Congresso. Quem sancionou? O presidente da República. Quem autorizou o
Judiciário, a polícia e o Ministério Público a atuarem foi o poder eleito pelo
povo. Deve-se ao Congresso a operação, e não a um grupo de procuradores ou
juízes que resolveram de uma hora para a outra acabar com a corrupção. Foi a
própria política que deu esse poder a eles. Entendo como positivas essas
operações. O combate à corrupção é necessário. Só que o país não se resume a
isso. E, em relação aos abusos cometidos [por investigadores], os recursos apresentados
nas instâncias superiores vão depurando esses excessos".
Toffoli
também fala sobre a delação premiada, que começou a ser desvirtuada na sua
função de combate ao crime de corrupção (a indústria da delação premiada é um
desses desvirtuamentos): "é um instituto novo. É uma garantia ao
colaborador. O que verificamos? Que, inicialmente, o colaborador dizia uma
série de coisas, inclusive algumas que não eram crimes. Mas ele se achava na
necessidade de dizer. Por isso, vários anexos [de delações] foram arquivados. O
Ministério Público ou a polícia têm que analisar os fatos [delatados] e julgar
se são úteis para o desbaratamento de uma organização criminosa. Se o Estado
considerou que sim, e acordou com ele [delator], tem que cumprir o
acordo".
O
ministro ainda comentou sobre as propostas dos candidatos mais bem colocados
nas pesquisas eleitorais sobre mudanças no STF: "debater a Suprema Corte
numa campanha eleitoral demonstra como o Judiciário se fez transparente e se
fez conhecer pela sociedade. Isso é bom. Donald Trump, em sua campanha a
presidente dos EUA, fez uma lista com cerca de 40 pessoas entre as quais ele
escolheria eventuais membros para Suprema Corte. Ele colocou isso no debate,
para escrutínio do povo. Você antes tinha um Supremo das antigas, escondido.
Ninguém sabia quem eram os ministros, como eles deliberavam. Era uma discrição
absoluta. No mundo de hoje, isso não se sustenta mais. É inexorável.
Quando
houve a coroação da rainha Elizabeth, no Reino Unido, ela decidiu transmitir a
cerimônia. [O primeiro-ministro Winston] Churchill disse: é o fim da monarquia.
O povo vai perder o respeito porque a mística vai acabar. A realidade mostrou o
contrário.
É
óbvio que passaram a esmiuçar a vida da família real, a criticar, a atacar.
Mas, num mundo transparente, isso legitimou muito mais [a realeza]".
De Brasília
(DF), Brasil 247, em 24/09/2018, às 05h02
Campanha Educação no
Trânsito do:
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