Agricultura
estuda mudar financiamento do agronegócio e seguro rural
Governo federal estuda alteração no crédito para produção e seguro rural
(Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil)
O governo federal estuda medidas para modificar o financiamento das
atividades no campo. Estão em discussão alterar o crédito para produção, rever
os mecanismos de seguro para garantia de renda para quem planta. Há também
demanda para viabilizar a participação do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa) no Conselho Monetário Nacional (CMN). A titular da
pasta, ministra Tereza Cristina, já sinalizou que quer essas mudanças.
Ao participar de evento no Paraná no último dia 24, a ministra Tereza
Cristina defendeu que o seguro rural seja ampliado, mais barato e
tenha juros baixos. “Quando estão com a produção segurada, os
produtores não perdem o sono e nem precisam pedir renegociação de dívida com o
pires não”, disse a ministra, acrescentando que debate o assunto com
o atual presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn e com Roberto Campos Neto,
que irá sucedê-lo, e o vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil,
Ivandré Montiel da Silva, segundo informações publicadas no site do
ministério.
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, defende assento para o
ministério no
Conselho Monetário Nacional (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Sobre a participação no CMN, a ministra já disse em entrevistas que teve
a "ousadia de pedir a ele [Paulo Guedes, ministro da
Economia] que colocasse o Mapa num assento do Conselho Monetário”. Junto
ao CMN funciona uma comissão consultiva de crédito rural.
A intenção da ministra foi bem recebida pela Associação Brasileira
de Agronegócio (Abag). “Tamanho para jogar nós temos, mas se vamos ser
escalados eu não sei”, ponderou o diretor da entidade, Luiz Carlos Corrêa
Carvalho. “O agronegócio é um setor que tem uma relevância muito grande na
economia e só por isso justificaria estar próximo de um conselho como esse.
Medidas por lá decididas podem alavancar ou botar travas desnecessárias.”
A ideia de ter um lugar no CMN também agradou a Luís Carlos Guedes
Pinto, ex-ministro da Agricultura (2006-2007) e professor titular do Instituto
de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). De acordo com ele,
o ministério já teve assento no CMN nos primeiros anos de funcionamento.
O órgão, criado na segunda metade dos anos 1960, era
composto pelo ministro da Fazenda; presidente do Banco do Brasil; presidente do
Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social e por “sete membros
nomeados pelo Presidente da República, após aprovação do Senado Federal,
escolhidos entre brasileiros de ilibada reputação e notória capacidade em
assuntos econômico-financeiros” (Lei nº 5.362, de 30.11.1967).
Até dezembro passado, antes da reforma administrativa proposta pelo
presidente Jair Bolsonaro (MP 870/2019), o Conselho Monetário era formado pelo
ministro da Fazenda, ministro do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão e
presidente do Banco Central do Brasil.
Seguro, crédito e renda
Em estudo encaminhado à Agência Brasil,
Luís Carlos Guedes Pinto apontou a necessidade de que o seguro rural seja
“mecanismo de mitigação de risco” e atenda recomendações já feitas pelo
Tribunal de Contas da União como “promover
a universalização do acesso ao seguro rural; assegurar o papel do seguro rural
como instrumento para a estabilidade da renda agropecuária; e induzir o uso de
tecnologias adequadas e modernizar a gestão do empreendimento agropecuário”.
Para Luiz Carlos Corrêa Carvalho, da Abag, mudanças no seguro rural
repercutiriam na oferta de crédito e condições de financiamento. “Se tiver uma
modalidade de seguro mais atualizada, vai melhorar o nível de risco menor, e
vai refletir nos prêmios que têm que ser pagos hoje. Assim os bancos
vão ter mais apetite para operar no setor, não só em volume de
crédito, mas em taxas – taxas de administração, taxas de risco, juros básicos,
prazos”.
O diretor da entidade também destaca a desatualização das sistemáticas
de financiamento. “A modernização do crédito não andou na mesma velocidade das
outras coisas”. Segundo ele, as operações ainda são baseadas no Manual de
Crédito Agrícola, editado na década de 1970.
Já para o ex-ministro Luís Carlos Guedes Pinto, o crédito atende pequena
parte dos produtores rurais: cerca de 500 mil produtores, que mobilizam 86,5%
da renda no campo. No estrato seguinte, estão 995 mil pequenos produtores com
acesso ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf)
e que aferem 10% da renda no campo. Segundo ele, o sistema de financiamento
deixa descoberto 2,9 milhões de produtores rurais que vivem de atividades de
subsistência e acessam a 3,5% da renda no campo.
De Brasília, Gilberto Costa, repórter da Agência
Brasil, em 31/01/2019, às 06h30
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