Casos de
feminicídio põem em alerta governo e organizações civis
Mulheres protestam, em 2016, contra violência doméstica
(Foto: Arquivo/Fernando
Frazão/Agência Brasil)
A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves,
disse que está entre as prioridades da pasta a implantação de políticas de
proteção e defesa dos direitos da mulher. “Não pouparemos esforços no
enfrentamento da discriminação e da violência contra as mulheres, sobretudo o
feminicídio e o assédio sexual”, afirmou a ministra na sessão do Conselho de
Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).
O aumento dos casos de feminicídio no país está no horizonte não só do
governo federal, mas de organismos internacionais, como a Comissão
Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). No início deste mês, a comissão
destacou que em 2019 ao menos 126 mulheres foram mortas no Brasil. Também
foram registradas 67 tentativas de feminicídio – assassinato de mulher, em
razão de sua condição de gênero.
A cada dez casos na América Latina, quatro ocorreram no Brasil.
Conforme levantamento da Comissão Econômica para a América Latina e o
Caribe (Cepal), vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), a cada dez
feminicídios cometidos em 23 países da América Latina e Caribe em 2017, quatro
ocorreram no Brasil. Naquele ano, ao menos 2.795 mulheres foram assassinadas na região. Desse
total, 1.133 foram no Brasil.
Já o Atlas da Violência 2018, feito
pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de
Segurança Pública, apontou uma possível relação entre machismo e racismo,
assinalando que a taxa de assassinatos que vitimaram mulheres negras cresceu
15,4% na década encerrada em 2016. Ao todo, a média nacional, no período, foi
de 4,5 assassinatos a cada 100 mil mulheres, sendo que a de mulheres negras foi
de 5,3 e a de mulheres não negras foi de 3,1.
Nadine Gasman, que representa, no Brasil, a Entidade das Nações Unidas
para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres), disse
que a educação é o instrumento capaz de reduzir conflitos e promover igualdade.
"O reconhecimento das relações de poder entre homens e mulheres nos
permite entender, por exemplo, por que as mulheres estão, ao mesmo tempo,
estudando e trabalhando mais e ganhando menos. É um problema estrutural”,
afirmou.
Legislação
A procuradora aposentada e advogada criminal Luiza Eluf, que já escreveu
dois livros recontando casos reais envolvendo o assassinato ou a violência
sexual cometida contra mulheres, participou de debates para elaboração da Lei
do Feminicídio. Desde a sanção da Lei nº 13.104/2015, o feminicídio é
classificado como crime hediondo.
"O crime de feminicídio tinha que ser tipificado para dizer por que
a mulher está morrendo. Seguros de automóvel têm desconto para mulheres porque
elas não morrem na direção. Elas morrem na casa delas, morrem namorando, no
momento em que se separam do sujeito ou quando ele acha que ela está saindo com
outro homem", argumentou.
Para a advogada, o brasileiro tem a convicção de que a mulher é uma
coisa que lhe pertence. “Temos que tornar visível essa calamidade. Agora
estamos dando um nome, aumentando a pena para homens que matam mulheres por
questões de gênero. Além de coibir, é explicativo da conduta. Matou? Matou por
quê? Porque ele, no lugar de homem, se acha dono da vida e da morte da mulher”,
afirmou.
Segundo Luiza, apesar de a impunidade de agressores ainda perdurar,
existe no país uma forte reação à violência contra a mulher. “A gente vê que
existe uma reação muito grande contra o espancamento e a morte de mulheres. Não
chegamos ao ponto correto, porque ainda existe o fato, existe gente que ainda
pratica isso, mas a forma como os fatos estão sendo tratados pela mídia e pela
Justiça mostra uma evolução", ponderou.
A advogada considera que, atualmente, a sociedade tolera menos esse tipo
de crime do que ao final da década de 1970. "Hoje, um homem que comete
feminicídio é condenado. Até a década de 70, eles eram quase todos absolvidos,
porque havia um sentimento social de que o homem mandava na mulher e podia
fazer qualquer coisa com ela”, disse.
Levantamento do
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), divulgado em março do ano passado, mostrou
o volume de processos que têm como pano de fundo o feminicídio. Em 2017, 2.795
ações pediam a condenação de um agressor enquadrado nessa modalidade, em uma
proporção de oito casos novos por dia, ou uma taxa de 2,7 casos a cada 100 mil
mulheres. Em 2016, haviam sido abertos 2.904 novos casos com o mesmo perfil.
De Brasília, Agência
Brasil, publicado em 26/02/2019, às
06h00
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