O Carnaval
da insanidade

Por
Florestan Fernandes Júnior (*)
Desde o dia 1º de janeiro não sai da minha cabeça as lembranças do livro
"O Grande Mentecapto", de Fernando Sabino. O personagem principal,
como o nosso atual presidente, teve uma passagem pelo Exército. Viramundo foi
aspirante no quartel de Cavalaria de Juiz de Fora. O rapaz, no limite entre a
sanidade e a loucura sai pela vida à procura de conflitos para heroicamente
resolvê-los. Numa de suas andanças, se elege político numa pequena cidade. A
carreira dura pouco e Viramundo acaba perdendo o mandato. A diferença entre
Viramundo e o capitão-presidente é que o personagem de Sabino é uma pessoa simples
e pura que faz suas maluquices de maneira ingênua.
Bolsonaro, ao contrário, sabe muito bem a que serve seu ódio. Só que,
encarcerado em sua loucura, não rompe com a beligerância para apaziguar o país.
Seu fanatismo ideológico, tem colocado cada dia mais lenha na fogueira do
rancor e da insensatez. Pra que elogiar o ex-ditador pedófilo e corrupto,
Alfredo Stroessner? O que o país ganhou com isso?
Em plena folia de carnaval, em vez de aproveitar o tempo para pensar em
saídas para o crescimento econômico e reduzir o desemprego, o presidente
preferiu destilar seus recalques no Twitter. Talvez contrariado com as dezenas
de manifestações carnavalescas contra seu governo, Bolsonaro postou um vídeo
pra lá de obsceno para os seus 3.5 milhões de seguidores: "Não me sinto
confortável em mostrar, mas temos que expor a verdade para a população ter
conhecimento e sempre tomar suas prioridades. É isto que tem virado muitos
blocos de rua no carnaval brasileiro". Nas imagens, um homem aparece com a
bunda de fora enfiando o dedo no próprio ânus. Na sequência, o sujeito se
abaixa para que outro homem urine na sua cabeça.

Um ato que, por si só, pode dar um processo por falta de decoro. Em
outro tweet, o capitão presidente posta outra mensagem que destoa da alegria
contagiante da maior festa popular do país. Bolsonaro incentiva as polícias a
agir com violência: "é urgente que o Congresso aprecie matérias para que
os agentes de segurança pública ou não, usem da letalidade para defender a
população, caso precisem e estejam amparados por lei para que possamos resgatar
a paz diante do terror que vivemos em todo Brasil". Disse isso depois de
um folião ter o braço quebrado covardemente por um grupo de PMs de São Paulo.
Como se tudo isso não bastasse, Bolsonaro decidiu atacar violentamente dois
ícones da música brasileira, fazendo aquilo que sua campanha mais produziu,
fake news. Bolsonaro fez acusações falsas do uso da Lei Rouanet por Caetano
Veloso e Daniela Mercury. O capitão presidente escreveu: "dois
"famosos" acusam o governo Jair Bolsonaro de querer acabar com o
Carnaval. A verdade é outra: esse tipo de "artista" não mais se
locupletará da Lei Rouanet". No pé da mensagem, um vídeo de uma marchinha
condenando o financiamento da cultura brasileira.
Realmente
este carnaval já entrou para a história, não só pelas homenagens feitas pelas
escolas de samba do Rio e de São Paulo aos negros, índios, a Marielle e ao
Lula, mas principalmente pelo enredo tresloucado composto pelo nosso guia, que
atira com os dedos, bate continência para assessor de Trump, se apresenta ao
lado de ministros de chinelo, calça de agasalho e camiseta pirateada do
Palmeiras. Como já dizia Caetano Veloso, alguma coisa está fora da ordem, fora
do decoro do cargo de presidente. Será que os generais vão continuar
participando deste samba de uma nota só?
(*) - Florestan Fernandes Júnior é escritor e jornalista, integrante do site Jornalistas pela Democracia. Em 07/03/2019
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