Alertas do
Inpe sobre desmatamento na Amazônia crescem 278% em julho

Devastação no Pará: ferramenta de alerta em tempo real costuma se refletir em sistema anual
de medição (Foto: Raphael Alves/AFP)
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
( Inpe ) mostram que os alertas do desmatamento
dispararam no mês passado. Em julho, foram atingidos 2.254,9 km². No mesmo mês
em 2018, esse índice ficou em 596,6 km². Comparando ambos os lados, trata-se de
um aumento de 304%.
Há, segundo ambientalistas, uma escalada na
devastação da Amazônia. Junho de 2019 teve uma área com alerta de desmate
90,8% maior do que o mesmo mês em 2018. O mesmo índice cresceu 34%, se
comparados os meses de maio deste ano e do ano passado.
A medição é realizada pela ferramenta Deter (Detecção
de Desmatamento em Tempo Real), cuja principal função é sinalizar áreas de
devastação da floresta para órgãos de fiscalização ambiental, como o Ibama .
No entanto, embora o cálculo do desmatamento não esteja entre suas funções,
historicamente as tendências apontadas pelo sistema são refletidas no Prodes (Programa
de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia), divulgado anualmente.
No mês passado, o governo demonstrou irritação com
os números averiguados pelo Deter. O presidente Jair Bolsonaro condenou o então
presidente do Inpe, o físico Ricardo Galvão, por divulgá-los sem consulta
prévia ao Planalto. Galvão foi exonerado na semana passada pelo ministro da
Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes.
— O número de alertas e áreas afetadas aumentou
substancialmente — alerta Galvão. — Vale lembrar que, nos últimos 13 anos, o
Prodes detectou índices de desmatamento ainda maiores do que os vistos pelo
Deter.
Crescimento ‘gritante’
A prévia dos índices do Prodes, referentes ao
período entre agosto de 2018 e julho de 2019, deve ser anunciada em outubro.
Secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl acredita que o desmatamento crescerá de uma
forma “gritante”.
— O Prodes tem imagens mais refinadas, e mostrarão
que a área desmatada é maior do que conhecemos — pondera. — Até agora, o
ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, apontou eventuais falhas no Deter,
mas não disse que operações serão feitas para conter o desmatamento, que
resultados quer atingir e como fortalecerá o Ibama, que é o responsável por
controlar o início do desflorestamento.
Coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace,
Marcio Astrini avalia que a Amazônia está sob a tutela do “crime organizado”.
— Não é um desmatamento realizado por pequenos
agricultores. São grileiros que atingem grandes áreas, inclusive terras
indígenas — critica. — O discurso do governo está dando impulso para quem devasta
a floresta. Nosso medo é que o desmatamento não só aumente, como esteja
começando a explodir.
O Ministério
do Meio Ambiente não respondeu aos pedidos de entrevista.
Do Rio de Janeiro, por Renato Grandelle repórter de O Globo, em 06/08/2019, às 04h30
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