Em meio à pandemia,
Ministério da Saúde enfrenta crise política e pode ter nova troca de comando
Nelson Teich sofre fritura no governo e pode ser
substituído
(Photo by Andressa
Anholete/Getty Images)
Enquanto o Brasil já soma 12.400 mortes por Covid-19 e 177.589 casos confirmados da doença, e
vários estados veem seus sistemas de saúde entrarem em colapso, a crise
política no Ministério da Saúde parece longe do fim.
Escolhido há menos de um mês para substituir Luiz Henrique Mandetta,
após um ruidoso processo de fritura, agora Nelson Teich, atual ministro, é quem
experimenta essa sensação em três frentes: dentro do ministério, no universo
político e junto à opinião pública.
Apesar da fritura em todas as frentes, integrantes do governo dizem que
uma troca no comando da pasta ainda não é cogitada. No entanto, partidos do
centrão, que negociam cargos com o governo federal em troca de apoio político,
já estão de olho no cargo do ministro da Saúde.
O nome do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) também voltou a ser
cogitado. Assim como o presidente Bolsonaro, ele é contra o isolamento social.
“Todos têm que estar alinhados”
Nesta semana, Nelson Teich foi surpreendido, durante uma coletiva de
imprensa, ao saber que um decreto do presidente incluiu academias e salões de
beleza entre serviços essenciais e limitou-se a dizer que essa é uma decisão do
Ministério da Economia e do presidente.
Bolsonaro declarou inicialmente que não precisava falar com o ministro
sobre o tema. Mais tarde, ao chegar ao Palácio da Alvorada, o presidente
afirmou que faltou apenas ter avisado Teich e que o ministro da
Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, admitiu essa falha.
Nos últimos dias, Teich passou a ser alvo também de ataques nas redes
sociais. Bolsonaristas estão dando impulso à hashtag #ForaTeich.
O ministro da Saúde, que dizia estar “100% alinhado” com Bolsonaro, deu
declarações sobre a não comprovação, até agora, da eficácia da cloroquina no
tratamento da Covid-19, além de prever em nova diretriz a determinação do
bloqueio total, conhecido como “lockdown”.
Nesta quarta-feira (13), Bolsonaro voltou a insistir na utilização da
cloroquina como tratamento para o coronavírus. Ao sair do Palácio da
Alvorada, o presidente afirmou que vai discutir com o ministro da Saúde, Nelson
Teich, sobre o uso do medicamento. Segundo ele, a cloroquina precisa ser
pensada de forma emergencial no tratamento de pacientes com a Covid-19.
“Na minha opinião porque não sou médico, mas muitos médicos do Brasil e
de outros países entendem que a cloroquina pode e deve ser usada desde o
início, mesmo sabendo que não há uma comprovação científica de sua eficácia”,
disse Bolsonaro.
E ainda acrescentou, em relação ao ministro, que declarou ontem que a
cloroquina tem efeitos colaterais e deve ser usada com cuidados: “Todos têm que
estar afinados”.
Gestores
As medidas de isolamento também geraram críticas entre gestores
estaduais e municipais. Na segunda-feira (11), o Ministério da Saúde apresentou
uma nova diretriz para orientar a flexibilização do isolamento social.
“É inoportuno falar de flexibilização quando vemos aumentar a cada dia o
número de mortos e de casos, e de pessoas adoecendo gravemente. Estamos subindo
ainda a montanha da epidemia”, afirma o presidente do Conselho Nacional de
Secretários Estaduais da Saúde (Conass), Alberto Beltrame.
Os primeiros pontos do plano foram anunciados pelo ministro no mesmo dia
em que o presidente Bolsonaro decidiu considerar salões de beleza e academias
como serviços essenciais. A normativa do Ministério da Saúde não é obrigatória,
mas ela aumentou a pressão política contra o distanciamento rígido que vem
sendo implementado em alguns estados para desacelerar o contágio do vírus.
Ministério
Dentro do ministério, Teich também se vê isolado desde que assumiu o
cargo. Ele exonerou técnicos e nomeou pelo menos sete militares, entre eles o
secretário-executivo, considerado o número dois da pasta, general Eduardo
Pazzuelo.
À crítica de que o ministério está com muitos militares à frente de
funções importantes, Teich respondeu que se trata de “um tempo de guerra”, e os
militares trazem planejamento estratégico.
Mas ex-funcionários alegam que os novos indicados não têm experiência na
área, além de terem retirado autonomia que as secretarias da pasta tinham.
Congresso
Ao contrário de Mandetta, que era muito elogiado no Congresso, Teich
recebeu duras críticas do Parlamento.
Os senadores cobraram respostas assertivas do ministro em relação à
necessidade de isolamento social como forma de combate à pandemia.
“Estamos em um momento de início de explosão de casos de mortes. Não é
momento para indecisão. É preciso ser claro e passar para o país uma mensagem
da autoridade máxima do Ministério da Saúde: isolamento social, sim ou não? Se
é por região, quais as regiões têm e quais não têm? Está dúbio, me desculpe
dizer com tanta veemência”, disse o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).
Na Câmara, Teich defendeu que o isolamento social no Brasil não fosse
politizado. “Não dá para trabalhar como se o lockdown fosse a essência de
tudo”.
Os deputados também reclamaram: “Ministro não respondeu sobre a
necessidade de recursos, não respondeu sobre os leitos, não respondeu sobre
nada”, afirmou o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP).
Por Ana Paula
Ramos, da Redação de Yahoo Notícias, em 14/05/2020
Nenhum comentário:
Postar um comentário