Tese de
Bolsonaro sobre coronavírus teria milhões de mortos e médico vê
"estratégia de destruição em massa"
Presidente Jair Bolsonaro (Foto: AP Foto/Eraldo
Peres)
“Nação vai ficar livre da pandemia depois que 70% for infectada”. A
declaração, dada no início de abril e repetida até hoje, é a tese de Jair
Bolsonaro (sem partido). O presidente defende que o novo coronavírus infectará
aproximadamente 147 milhões de pessoas no Brasil (que tem uma população
total estimada de 210 de milhões).
Sérgio Zanetta, médico sanitarista e professor de Saúde Pública do
Centro Universitário São Camilo, garante que a ideia defendida por Bolsonaro é
infundada e a classifica como uma “estratégia de destruição em massa".
“É um cenário totalmente irreal.
Nenhum lugar do mundo teve esse nível de infecção. Não há base científica e
nenhum fundamento que sustente essa tese”, afirma Zanetta.
A tese defendida por Bolsonaro corrobora com suas críticas ao isolamento
social, medida considerada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como uma das
únicas eficazes no combate à pandemia.
“Cada vez que presidente presidente diz coisas do tipo [críticas ao
isolamento] parece jogar um galão de gasolina sobre a pandemia. Ele é uma
pessoa que tem seguidores, sua opinião não é de uma pessoa isolada, então acaba
sendo muito egoísmo apresentar essa opinião de um modo tão perigoso”, avalia o
médico.
De acordo com o cenário defendido por Bolsonaro, quase 30 milhões de
pessoas (20% dos 147 milhões infectados) precisariam de leitos hospitalares.
Segundo Zanetta, essa é uma estrutura que não existe em nenhum país do mundo.
“Do ponto de vista científico é uma bobagem. Nenhum país no mundo tem
essa estrutura disponível ou pronta para ser instalada para tratar de uma nova
doença”. A expectativa do médico é que o país não chegue nem a 0,5% da
população (pouco mais de um milhão de pessoas) infectada pelo novo coronavírus.
"[Quando Bolsonaro defende a tese] ele está dizendo que não precisa
nem de vacina. É uma estratégia de destruição em massa", lamenta Zanetta.
Quantos morreriam?
É difícil estimar o número de mortos que o cenário defendido pelo
presidente registraria. Isso porque a taxa de letalidade da Covid-19 varia
muito de acordo com os registros dos países.
“Quando eu comparo a taxa de letalidade entre países, eu preciso levar
em conta a testagem. O Brasil é um dos países que menos testa. Assim fica
difícil estimar qual seria a real letalidade do vírus por aqui".
No boletim mais recente divulgado pelo Ministério da Saúde no último
domingo (17), o Brasil apresenta 15.633 mortes e 233.142 casos. Assim, a taxa
de mortalidade do vírus no país seria de 6,7%.
Com a atual taxa de mortalidade que, segundo especialistas está
superestimada devido ao número reduzido de testes, o Brasil encerraria a
pandemia com mais de 9 milhões e 800 mil mortes no cenário
preconizado por Bolsonaro.
É possível simular também, apenas com intuito comparativo, quantos
mortos o Brasil acumularia baseado em taxa de letalidades de outros países:
Cenário 1: Taxa de letalidade dos EUA
Os EUA são o país com maior número de mortos no planeta (mais de 89
mil). Sua taxa de mortalidade gira em torno de 6,6%, algo que resultaria num
total de 9 milhões e 700 mil mortes.
Cenário 2: Taxa de letalidade de europeus
Reino Unido e Itália são os países com maior número de mortos na Europa
(mais de 34 e 31 mil, respectivamente). Sua taxa de mortalidade gira em torno
de 14%, algo que resultaria num total de 20 milhões de mortes.
Cenário 3: Taxa de letalidade do Irã
O Irã é o país com maior número de mortos na Ásia (mais de 7 mil). Sua
taxa de mortalidade gira em torno de 5,7%, algo que resultaria num total
de 8 milhões e 500 mil mortes.
Cenário 4: Taxa de letalidade dos vizinhos latinos
Depois do Brasil, o Equador é o país com maior número de mortos na
América Latina (mais de 2,7 mil). Sua taxa de mortalidade gira em torno de
8,2%, algo que resultaria num total de 12 milhões de mortes.
Chile e Argentina são bons exemplos de países que lidaram com a pandemia
de maneira rígida. Os argentinos tem uma taxa de mortalidade de 4,6%, algo que
resultaria num total de 6 milhões e 700 mil de mortes.
O Chile, por sua vez, apresenta uma taxa de mortalidade de 1%, algo que
resultaria num total de 1,47 milhão de mortos.
Da Redação de Notícias de Yahoo Notícias, publicado em
18.05.2020
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