O Ministério Público de São Paulo
abriu ontem, quinta-feira (15), seis novos inquéritos para apurar a existência
de um suposto cartel de empresas para combinar preços em licitações do Metrô e
na CPTM. Agora são 53 procedimentos investigatórios abertos pelos promotores,
que houve conluio de empresas para fraudar concorrências durante governos do
PSDB no estado.
Os inquéritos devem ser distribuídos
nesta quinta a promotores da Justiça e da Cidadania, que fazem uma força-tarefa
para investigar o caso. Os novos inquéritos foram abertos depois que a empresa
Siemens delatou o suposto cartel ao Cade (Conselho Administrativo de
Defesa Econômica).
O Cade investiga inicialmente
indícios de cartel nos contratos de cinco projetos: trens e equipamentos para o
Trecho 1 da Linha 5-Lilás; para expansão da Linha 2-Verde do Metrô; manutenção
de trens das séries S2000, S2100 e S3000 e modernização da Linha 12-Safira da
CPTM em São Paulo, durante governos do PSDB, e para manutenção do Metrô do
Distrito Federal, durante gestão do PMDB.
Os executivos da Siemens não poderão
ser denunciados criminalmente devido ao acordo de leniência assinado pela
empresa, que delatou ao conselho a existência do suposto cartel.
Nesta quarta (14), prestou depoimento na
sede do MP-SP o ex-presidente da Siemens brasileira, Adilson Primo. Ouvido na
condição de testemunha, ele negou ter participado de qualquer processo de
formação de cartel e não quis falar com a imprensa.
Linha 4
Amarela do Metrô SP
Documentos obtidos pelo Cade mostram
que executivos da Siemens impuseram à Alstom, como condição para fazer parte de
um cartel na licitação para manutenção do Metrô DF, em 2005, a futura
subcontratação da empresa alemã na licitação da Linha 4 - Amarela do Metrô de
São Paulo.
A proposta não foi colocada em
prática, de acordo com o Cade, mas indica que empresas concorrentes buscaram
acertos velados, ilegais, que ferem as regras para licitações públicas em
outros contratos, além dos que são alvo do processo atual no conselho.
Os documentos foram entregues ao Cade
pela própria Siemens, que assinou acordo de leniência em troca de imunidade
pelo auxílio à Justiça. Também houve busca e apreensão em empresas supostamente
envolvidas, por ordem judicial.
Nos e-mails entre os executivos,
trocados em 2006, parte do escopo da Linha 4 era condição considerada
“estratégica” pela Siemens. “Houve contatos entre os representantes dessas duas
empresas entre meados de 2003 e início de 2006”, informa o relatório do
conselho.
Em um dos e-mails, um executivo da
Siemens afirma ter recebido uma ligação de um dirigente da Alstom perguntando
se “vinculamos a subcontratação nos lotes 1 e 2 a um acordo no Metrô DF”. “Eu
‘refresquei’ a memória dele quanto a nossa conversa antes do Natal, onde deixei
bem claro que teríamos que tratar os dois temas concomitantemente.”
As mensagens não informam se o acordo
foi fechado incluindo a Linha 4. O Cade trata essa condição como uma
“tentativa” que não obteve sucesso.
O processo sobre a Siemens contém
apenas a ata assinada pelas quatro empresas constituindo o cartel no DF, que
foi fechado em fevereiro de 2006, segundo o Cade.
Ao abrir a investigação mais recente
na última sexta-feira (9), que trata as empresas como "organizações
criminosas", o promotor Marcelo Mendroni afirmou que o crime de cartel se
configura independentemente de um resultado. "A mera reunião, um acordo,
ajuste das empresas, mesmo que não cheguem ao resultado de fraudar a licitação,
só o acordo já faz configurar o crime de cartel", afirmou. Já a fraude à
licitação precisa ser consumada para haver condenações.
Investigações
As suspeitas de cartel também são investigadas pelo Ministério Público de São Paulo nas esferas cível e criminal. Cerca de 15 inquéritos já estavam arquivados.
As suspeitas de cartel também são investigadas pelo Ministério Público de São Paulo nas esferas cível e criminal. Cerca de 15 inquéritos já estavam arquivados.
As fraudes teriam acontecido em
licitações públicas para venda e manutenção de metrôs e trens metropolitanos
durante os governos de Mario Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, em São Paulo,
nos anos 1990 e 2000.
O governador de São Paulo, Geraldo
Alckmin (PSDB), [...] nega qualquer irregularidade nas
licitações.
As empresas investigadas negam
participação em cartel ou conluio para obtenção de contratos. A Siemens afirma
cooperar "integralmente com as autoridades".
A Alstom esclareceu que recebeu um
pedido do Cade para apresentar documentos relacionados a um procedimento
administrativo referente à lei concorrencial. "A empresa está colaborando
com as autoridades", diz em nota.
Rosanne D'Agostino - Do G1 São Paulo - 15/08/2013 19h23 - Atualizado em 15/08/2013 21h06 - Ilustrações do blog
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