Denúncias que envolvem tucanos são exploradas pelo PT
Escândalo desgasta José Serra, no momento em que ele ensaia uma disputa interna no PSDB
Com a classe política já em clima de campanha eleitoral, as
denúncias de corrupção envolvendo governos tucanos de São Paulo causam incômodo
no PSDB e são exploradas pelo PT. Os petistas, no entanto, estão divididos
quanto à estratégia de propor uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no
Congresso. O escândalo desgasta o ex-governador José Serra no momento em que
ele ensaia uma disputa interna no PSDB para ser candidato à Presidência da
República.
Nesse aspecto, à primeira vista, o presidente do PSDB, senador Aécio
Neves (MG), que é pré-candidato ao Palácio do Planalto, sai fortalecido, mas
seus aliados afirmam que o caso é ruim para o PSDB como um todo, e também
respingaria no mineiro na campanha eleitoral.
— Se, por um lado, esse caso deixa o Serra imobilizado, desgastado, por
outro atinge o PSDB como um todo. A capacidade de entendimento das pessoas é
limitada e, na hora que isso é jogado numa campanha eleitoral, elas não sabem
diferenciar (os atores dentro do partido) — disse um aliado de Aécio.
Em público, pelo menos, o PSDB está unido. Em nota, a direção nacional
do partido criticou o “vazamento gradual e selecionado” de trechos de
investigações e afirmou que isso reforça a suspeita de uso político das
informações: “O PSDB reitera seu compromisso com a ética, com a lisura e com a
apuração rigorosa dos fatos”.
Aliado de Serra, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) afirmou
estar “ansioso” pela liberação dos documentos pelo Conselho Administrativo de
Defesa Econômica (Cade), não só para colaborar com as investigações, mas para
checar se a Siemens também menciona formação de cartel para o fornecimento de
trens para a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), subordinada ao
Ministério das Cidades:
— Não tenho preocupação porque tenho absoluta convicção de que, se houve
cartel, não foi com o apoio de dirigentes do PSDB, diferentemente do PT, que
negou o mensalão mesmo depois de cinco anos de investigação e da condenação
pelo Supremo.
Para o presidente do PSDB de Minas, deputado Marcus Pestana, fiel aliado
de Aécio, a memória de figuras históricas do partido está sendo atacada
injustamente:
— Quem não deve não teme. Nossas raízes estão fundadas em São Paulo na
memória de pessoas do calibre de Mário Covas e do Franco Montoro. Essa tradição
é reafirmada nas pessoas de José Serra e de Geraldo Alckmin. Não mexam com a
memória do Covas. Mexeu com o Covas, mexeu com todos nós.
Já o PT está dividido. Enquanto o secretário-geral do partido, deputado
Paulo Teixeira (SP), articula a criação de uma CPI para investigar as
denúncias, a bancada petista no Senado é contra. Os senadores temem que a
exploração política do assunto tire credibilidade das acusações. Preferem
deixar as investigações a cargo do Ministério Público, da Polícia Federal e do
Cade.
— A posição da bancada do PT no Senado é de esperar. Não podemos agir
com o PSDB do jeito que eles agiram com a gente (no mensalão). A política do
olho por olho e dente por dente não é boa, porque acaba todo mundo cego — disse
o senador Jorge Viana (PT-AC), ressaltando, no entanto, a gravidade das
suspeitas. — Esse assunto é chocante. A cada dia há uma nova surpresa que
coloca o PSDB e o governo de São Paulo a dar explicações. Se as coisas
caminharem do jeito que estão indo, vão chegar ao caixa dois.
O líder do DEM, senador José Agripino (RN), aliado do PSDB, minimizou as
denúncias:
— Covas e Serra não têm envolvimento nenhum. Eles queriam acelerar as
licitações e não têm culpa no cartório. Se houve proposta de pagamento de
propina, foi para o segundo e terceiro escalões.
O presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), que negocia o
lançamento da candidatura presidencial de Serra, afirmou:
— Estou vendo isso como uma grande armação. Espero que as investigações
esclareçam bem, porque você tem manchetes capciosas, falando de algo sobre o
Serra que, ao final, é algo que não existiu. Não houve nada na licitação, o
interesse da empresa não foi atendido. O PPS é favorável a que se investigue,
diferente de Lula, que nunca ouviu nada e nunca gosta da investigar nada. No
final vai ficar provado que o interesse público ficou resguardado no governo do
Serra.
Por Fernanda Krakovisc/Paulo Celso Pereira - De Brasília. Publicado: 09.08.2013 Atualizado: 10.08.2013, às 00h21.
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