"Ignorante" versus Idiota
Ora, minha gente, diante da ampla variedade a que chegou o termo idiota, quem , mesmo nos meios mais letrados não cometeu uma idioticezinha na vida? Assim sendo, é possível que a grande maioria dos interlocutores de "Seu Lunga", excluindo aí sua freguesia de rotina e seus familiares mais íntimos, tenham recebido dele uma "ignorante" reação, ante uma indagação a ele mal formulada. Ele mesmo achava que não, mas as pessoas, mormente as desconhecidas, o temiam, tinham medo, receio de ser humilhadas. No conceito geral ele era grosso, áspero, agreste, agressivo. Mas, não. No fundo, era amável, dócil e caridoso. Inteligente, capcioso, astuto e sutil, sabia como ninguém fazer a distinção do tipo de "idiota" com quem lidava. Para ele, havia o idiota político, o idiota avarento, o idiota ocasional, o idiota especulador, dentre outros tipos que ele mesmo qualificava, diferentemente do "ingênuo", do "imbecil", do "inocente", ou do "abobalhado", para quem se apeava da intolerância, se desnudava da "ignorância" - tratava-os, conforme dizia, com brandura e com decência. Por essas e por outras, "Seu Lunga" (como ele mesmo dizia) nunca foi "ignorante". Antes de tudo, foi um sábio. Religioso praticante, devoto de "Padim Ciço", era zeloso do ensinamento bíblico que preconiza: "é pecado humilhar o próximo, atribuir-lhe pecha de idiota, humilhá-lo com qualquer tipo de pejo. (Continua amanhã)
Por Herculano Costa
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