PSDB dá vazão ao
golpismo
Por Aldo Fornazieri (*)
Involuntária ou
voluntariamente, o PSDB está estimulando setores golpistas. Sem nenhum indício
de que tenha havido irregularidades nas eleições presidenciais do segundo
turno, o partido pediu ao Tribunal Superior Eleitoral uma auditoria especial do
pleito. No pedido, o PSDB afirma o seguinte: "Temos absoluta confiança de
que o TSE cumpriu seu papel, garantindo a segurança do processo
eleitoral". Assim, sem evidências e com a manifestação dessa
"confiança", o PSDB se mostra um pescador de águas turvas e lança uma
suspeição geral sobre a legitimidade das eleições sem ter a coragem de assumir
claramente este objetivo. Pedir a auditoria de eleições é um direito que
assiste os partidos, desde que haja evidências de irregularidades. Caso
contrário, abre-se um grave precedente que pode desaguar na instabilidade
política e na erosão da confiança na Justiça Eleitoral, construída arduamente
no pós-regime militar.
Uma das coisas que o
Brasil pode se orgulhar de sua democracia é a confiabilidade e a credibilidade
de seus processos eleitorais. A confiança e a experiência acumuladas permitem
que a cada eleição se busquem superar deficiências e corrigir erros eventuais.
Queira-se ou não, a suspeição lançada pelo PSDB sobre as últimas eleições
provoca ressonâncias nas manifestações golpistas que se expressam na internet e
nas ruas, como ocorreu em ato realizado em São Paulo no último sábado (1), no
qual os manifestantes pediram um misto de impeachment da presidenta Dilma
Rousseff e de golpe militar.
Já durante a campanha
eleitoral de Aécio Neves, o PSDB permitiu que se abrigassem como seus
apoiadores setores golpistas e indivíduos e grupos que manifestaram
preconceitos antinordestinos, homofóbicos, racistas e contra as mulheres.
Elementos intolerantes estimularam a violência física e verbal contra pessoas
que, simplesmente, portavam adesivos de apoio a Dilma. O ódio ao PT foi moeda
corrente na campanha de Aécio. Até mesmo divisionistas se agregaram à campanha,
pregando, ou a independência de São Paulo ou a exclusão do Norte e do Nordeste
do resto do Brasil. Não houve nenhuma condenação dessas manifestações
antidemocráticas e preconceituosas, seja por parte de Aécio, seja por parte do
PSDB. (Continue lendo esta matéria. Clic abaixo, em:)
O PSDB é politicamente
responsável por essas manifestações e deve ser cobrado por isso. Convém lembrar
que quando setores do PT propuseram a campanha do "Fora FHC", o
Congresso Nacional do partido, realizado em novembro de 1999, aprovou uma
resolução rejeitando a iniciativa. Os tucanos precisam manifestar-se, tanto
sobre as propostas de golpe, quanto sobre a palavra de ordem do impeachment de
Dilma se não quiserem continuar dando vazão a este tipo de manifestações. O
PSDB e os demais partidos que têm uma história de luta contra o autoritarismo e
em defesa da democracia, incluindo o PT, não podem permitir que elementos
oportunistas e carreiristas, vindos de outras bandas, contaminem e destruam a
cultura democrática que os formaram.
As pregações da
divisão do Brasil e de apelo ao golpe militar são atentados contra a
Constituição. Os detentores de cargos eletivos que se manifestarem pela divisão
do Brasil ou pelo golpe devem ser processados politicamente e, por
consequência, devem ter seus mandatos cassados, dada a gravidade de seus atos.
O artigo 1° da Constituição afirma que "a República Federativa do Brasil,
formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constitui-se em Estado Democrático de Direito...". Este artigo estabelece
o princípio da unidade e da indivisibilidade do território nacional, organizado
de forma federativa. Propor a divisão representa uma grave violação
constitucional.
O parágrafo 4° do
artigo 60 da Constituição define como cláusulas pétreas (imutáveis), "a
forma federativa do Estado; o voto direto, secreto, universal e periódico; a
separação dos Poderes; os direitos e garantias individuais". As cláusulas
pétreas, cuja origem remonta à Constituição norte-americana e cuja relevância
foi evidenciada na Constituição alemã de 1949, definem os conteúdos essenciais
do constitucionalismo democrático, assentados no asseguramento da ordem
democrática, na defesa das liberdades individuais e no limite do poder. Propor
o golpe militar também representa uma violação deste dispositivo constitucional.
O que fica claro é que os comandos constitucionais que fundam os pilares
democráticos do Brasil precisam ter consequências práticas. Ou seja, o que
falta é uma lei de defesa da democracia que tipifique criminalmente e
responsabilize aqueles que pregam o golpe militar e a divisão do Brasil e
cometam atos que violam o Estado de Direito.
(*) - Aldo Fornazieri é cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política
Publicado no portal GGN, em
04/11/2014, às 18h45

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