BARÃO DE ITARARÉ
Por Inocêncio
Nóbrega (*)
Nascido no
vilarejo uruguaio de Pueblo Vergara, descendente materno de avós
norte-americano e indígena dessa região, porém registrado no Rio Grande do Sul,
Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly (1895-1971) se considerava uma mistura
genealógica da “Liga das Nações”. Perdeu a mãe aos 18 meses, sendo levado, por
iniciativa de seu pai, a um internato jesuíta em S. Leopoldo (RS). Em Porto Alegre fez um exemplar curso médio e
péssimo acadêmico de medicina. Contagiava a todos suas tiradas hilariantes.
Brotava essa vocação de um jornalista humorístico bem sucedido. Em 1925, foi à
procura de emprego no “O Globo”, de Irineu Marinho. Perguntaram-lhe qual a
função pretendida. Eis a resposta: “Qualquer trabalho serve, de varredor a
diretor do jornal, até porque não vejo muita diferença”! Depois, estava ele no
“A Manha”, de Mario Rodrigues, para confundir com o “A Manhã”, carioca. Entendeu
que com a vitória da Revolução de 1930 surgiu, entre poderosos e bajuladores da
elite, a prática do “puxa-saquismo”, remontando os tempos imperiais, com a
farta distribuição de patentes honoríficas.
No periódico
“A Manha”, de 5.12.1930, aparecia publicado um decreto com assinatura apócrifa
de Getúlio Vargas, que em seu Art. 1º concedia o título de Barão de Itararé a
Aparício, “considerando que, no fundo, a República é uma monarquia disfarçada,
resolvemos conceder ao nosso querido diretor o título de Barão de Itararé,
podendo dele fazer o uso que lhe convier” – escrevera ele na justificativa. Itararé,
recôndita cidade do sudoeste paulista, pegou fama por causa dessa arrumação do
humorista gaúcho. A denominação foi por ele escolhida para homenagear uma
batalha nesse lugar, entre tropas paulistas e getulistas de 1932, que nunca
houve. Na história do baronato nacional
não consta o registro desse título.
Barão de
Itararé, o inspirador do Pif-Paf, O Pasquim, o Caceta Popular, deixou sua marca
indelével no jornalismo brasileiro. Crítico mordaz ao Estado Novo; exausto de
apanhar da polícia pôs um aviso à entrada de seu escritório “entre sem bater”.
À Academia Brasileira de Letras sugeriu sua democratização, ao dizer que tinha
a forma de um ônibus: 40 mortais
sentados e 20 em pé! Militante do PCB,
elegeu-se vereador, pelo Rio de Janeiro, sustentando o lema: “Mais leite, mais
água, mas menos água no leite”! Foi cassado junto a todos de seu partido, uma
vez proscrito. Por esse liame partidário
chegou a ser preso, em 1935. Autor de frases geniais. Veja algumas: “Viva cada
dia como se fosse o último. Um dia você acerta”. “O voto deve ser rigorosamente
secreto. Só assim o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato”.
“Sábio é o homem que chega a ter consciência de sua ignorância”. “Quem não muda de caminho é trem”.
O que escreveria sobre as falcatruas de hoje!
O que escreveria sobre as falcatruas de hoje!
(*) - Inocêncio Nóbrega é Jornalista e Escritor (inocnf@gmail.com)
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