terça-feira, 31 de março de 2015

História

BARÃO DE ITARARÉ

 Por Inocêncio Nóbrega (*)
            Nascido no vilarejo uruguaio de Pueblo Vergara, descendente materno de avós norte-americano e indígena dessa região, porém registrado no Rio Grande do Sul, Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly (1895-1971) se considerava uma mistura genealógica da “Liga das Nações”. Perdeu a mãe aos 18 meses, sendo levado, por iniciativa de seu pai, a um internato jesuíta em S. Leopoldo (RS).  Em Porto Alegre fez um exemplar curso médio e péssimo acadêmico de medicina. Contagiava a todos suas tiradas hilariantes. Brotava essa vocação de um jornalista humorístico bem sucedido. Em 1925, foi à procura de emprego no “O Globo”, de Irineu Marinho. Perguntaram-lhe qual a função pretendida. Eis a resposta: “Qualquer trabalho serve, de varredor a diretor do jornal, até porque não vejo muita diferença”! Depois, estava ele no “A Manha”, de Mario Rodrigues, para confundir com o “A Manhã”, carioca. Entendeu que com a vitória da Revolução de 1930 surgiu, entre poderosos e bajuladores da elite, a prática do “puxa-saquismo”, remontando os tempos imperiais, com a farta distribuição de patentes honoríficas.
            No periódico “A Manha”, de 5.12.1930, aparecia publicado um decreto com assinatura apócrifa de Getúlio Vargas, que em seu Art. 1º   concedia o título de Barão de Itararé a Aparício, “considerando que, no fundo, a República é uma monarquia disfarçada, resolvemos conceder ao nosso querido diretor o título de Barão de Itararé, podendo dele fazer o uso que lhe convier” – escrevera ele na justificativa. Itararé, recôndita cidade do sudoeste paulista, pegou fama por causa dessa arrumação do humorista gaúcho. A denominação foi por ele escolhida para homenagear uma batalha nesse lugar, entre tropas paulistas e getulistas de 1932, que nunca houve.  Na história do baronato nacional não consta o registro desse título.
            Barão de Itararé, o inspirador do Pif-Paf, O Pasquim, o Caceta Popular, deixou sua marca indelével no jornalismo brasileiro. Crítico mordaz ao Estado Novo; exausto de apanhar da polícia pôs um aviso à entrada de seu escritório “entre sem bater”. À Academia Brasileira de Letras sugeriu sua democratização, ao dizer que tinha a forma de um  ônibus: 40 mortais sentados e 20 em pé!   Militante do PCB, elegeu-se vereador, pelo Rio de Janeiro, sustentando o lema: “Mais leite, mais água, mas menos água no leite”! Foi cassado junto a todos de seu partido, uma vez proscrito.  Por esse liame partidário chegou a ser preso, em 1935. Autor de frases geniais. Veja algumas: “Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta”. “O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato”. “Sábio é o homem que chega a ter consciência de sua ignorância”.  “Quem não muda de caminho é trem”.  
O que escreveria sobre as falcatruas de hoje!
(*) - Inocêncio Nóbrega é Jornalista e Escritor (inocnf@gmail.com)

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