Advogada diz ter sido ameaçada após consultor
relatar que Cunha havia pedido propina
A advogada Beatriz Catta Preta,
defensora de nove delatores da Operação Lava-Jato, afirmou, em entrevista ao
“Jornal Nacional”, da TV Globo, na noite desta quinta-feira, que pretende abandonar
a profissão por se sentir ameaçada. A defensora afirmou que a intimidação
aumentou depois que um dos seus clientes, o consultor Júlio Camargo, relatou um
encontro com o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em 2011,
em que o parlamentar lhe pediu US$ 5 milhões em propinas. Cunha nega a
acusação.
—Sim, vamos dizer que aumentou
essa pressão (após o depoimento de Júlio Camargo), aumentou essa tentativa de
intimidação a mim e a minha família.
Em São Paulo, após passar férias
de 34 dias em Miami, e com fisionomia bastante abatida, Catta Preta informou ao
“Jornal Nacional” que todos os depoimentos dados por Julio Camargo foram
realizados com a apresentação de documentos e provas.
Camargo citou Cunha em 16 de
julho, durante uma audiência da Justiça Federal em Curitiba. Para a advogada, o
fato de seu cliente não ter até então citado o nome de Cunha não ocorreu porque
o consultor estava com receio.
— Ele tinha medo de chegar ao presidente da Câmara.
À reportagem da TV Globo, Catta
Preta disse temer pela integridade sua e da sua família.
— Vou zelar pela segurança da
minha família, dos meus filhos. Decidi encerrar minha carreira na advocacia.
Fechei o escritório — afirmou a advogada.
Sem citar nomes, a advogada disse
que a pressão veio dos integrantes da CPI da Petrobras, dos deputados que
votaram a favor de sua convocação para falar sobre os honorários que recebeu
dos clientes da Lava-Jato. Ao ser indagada se recebeu ameaças de morte,
respondeu:
— Não recebi ameaças de morte,
não recebi ameaças diretas, mas elas vêm de forma velada. Elas vêm cifradas.
Beatriz Catta Preta comunicou, na
semana passada, ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Federal Criminal do
Paraná, que estava deixando os seus clientes.
Sobre a sua convocação na CPI da
Petrobras, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) entendeu a ação como uma
tentativa de intimidação. Nesta quinta-feira, no início da noite, o presidente
do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski, concedeu
liminar para dar à advogada o direito de não responder a perguntas de
integrantes da comissão.
Na entrevista ao “Jornal
Nacional”, Catta Preta negou ter recebido R$ 20 milhões na Lava-Jato.
— Esse número é absurdo. Não
chega nem a metade disso - ressaltou, acrescentando que tem “vida financeira
correta”.
Eduardo Cunha não quis comentar o
assunto. O advogado do deputado, Antonio Fernando de Souza, disse ao “Jornal
Nacional” que as declarações da advogada não fazem sentido, "uma vez que
Júlio Camargo já havia negado o envolvimento de Cunha publicamente".
Para Souza, Catta Preta dá de que
houve o que chamou de "coisa montada" e disse que "a mentira
salta aos olhos". O advogado de Cunha voltou a negar veementemente o
envolvimento do presidente da Câmara nas fraudes e disse que Júlio Camargo não
tem nenhum documento que ligue o político às irregularidades.
Copyright by jornal O
Globo, em 31/07/2015
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