Mudança de turma
Inocêncio Nóbrega (*)
Evidencia-se que a conspiração em
curso vem estragando nossa campanha, no passado, pela Redemocratização e pelas
Diretas, Já! O atual momento tem chegado à mídia internacional e acompanhado com
vivo interesse pelos países, sobretudo irmãos, principalmente parceiros de um
projeto de governo popular e nacionalista. Sabem de uma democracia consolidada como
a nossa, dentro de uma geografia privilegiada na América Latina, em função da
sua postura independente, calcada na descolonização política e econômica do
Continente.
Diferente de
episódios anteriores, quando tudo transcorria rapidamente, à base do trabuco, agora,
pelo imperativo das leis o rito impeditório é muito mais lento, ocasionando
feridas na população e paralisação de setores produtivos. Proporciona, todavia,
melhor conhecermos os atores desse triste espetáculo, fruto de uma panaceia
equivocada que corrói os tecidos democráticos e tranquilidade de nossa gente. Redesenha-se a partir de público anúncio de FHC,
um dos montadores desse palco (leia o “Estadão”, fevº/ 2015), de que estaria
disposto promover golpe de estado contra a presidente Dilma, delegando tarefa
ao próprio Judiciário a ruptura da legalidade. Apresenta-nos claro o processo
de litigância entre a plenitude de direito e de exceção. Tais declarações
parecem combinar assédios espetaculares a setores da Justiça, num estímulo à
decadência da moralidade institucional, tão prejudicial à sociedade quanto a
corrupção.
Fraudes e
chinfrins sempre aviltaram a República, em quaisquer esferas de governo. Não
será o Lava-Jato, com seu processo investigatório partidarizado que os inibirá.
No refrescar de memória o jurista Nelson
Jobim, que já ocupou a presidência do STF e um dos relatores da Constituinte de
1988, é acusado de fraudar a Carta Magna, de haver inserido dispositivos jamais
objetos de deliberação em plenário. Pior, nenhuma investigação foi aberta nesse
sentido, omissão que traz insegurança jurídica a quantos se abrigam no
guarda-chuva das demais instâncias da Justiça. Nos períodos que antecederam a Lula não foram
poucos os escândalos: Sivan, Sudam (alcance de mais de R$ 1 bilhão), Pasta Rosa
(CPI arquivado por iniciativa do dep. tucano, Albert Goldman), Venda de
Sentenças, Proer, TRT-paulista, Fundef, Reeleição. Só na gestão FHC, segundo
Revista Consciência Net, contabilizam-se 45 deles, quando Inácio Loyola, então
presidente do Banco Central e ACM fizeram história.
O governo de
João Goulart foi acusado de corrupto, pelas baionetas, que tiveram 21 anos para
passar o Brasil a limpo, não o fazendo. Nessa época – diz-nos a imprensa - milhões
de cruzeiros foram levados a bancos suíços, por políticos, empresários e
militares de alta patente, não se sabendo até agora, de seu retorno. O Lava-Jato
tem muito que lavar, enquanto vivos alguns autores. Observe que na relação não
citamos a Vale de Rio Doce, privatizada e subavaliada num valor de U$87 bilhões
inferior ao seu patrimônio. Dessa forma, o Brasil não aceita mudança de turma
através do tapete, pois, só o voto pelo povo tem legitimidade para fazê-la.
(*) – Inocêncio Nóbrega é jornalista e escritor. (inocnf@gmail.com)
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