STF ainda tem uma saída
honrosa: anular o golpe
Em 17
de abril do ano passado, o então deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) conduziu a
sessão da Câmara dos Deputados que ficará registrada nos livros de História
como o "Dia da Infâmia".
Naquele dia, centenas deputados investigados por corrupção acolheram um
processo de impeachment sem crime de responsabilidade – ou seja, um golpe
parlamentar – contra uma presidente honesta. Uma situação tão surreal que foi
definida pelo escritor português Miguel Sousa Tavares como "uma assembleia
de bandidos, presidida por um bandido" (relembre aqui).
Assim,
abriu-se o caminho para que 54 milhões de votos fossem rasgados, ferindo de
morte a democracia brasileira.
Menos
de vinte dias depois, em 5 de maio de 2016, o então ministro Teori Zavascki
decidiu afastar Cunha do mandato e da presidência da Câmara, em razão das
acusações de corrupção, evasão de divisas e lavagem de dinheiro pelas quais ele
agora foi condenado.
No
entanto, o pedido de afastamento de Cunha já havia sido formulado pelo
procurador-geral Rodrigo Janot, muitos meses antes, deixando no ar uma dúvida
inquietante: por que o STF só agiu depois que a democracia brasileira foi
ferida?
Ao
que tudo indica, por receio de que os ministros fossem acusados de estar
interferindo em outro poder. Agora,
no entanto, o quadro é o outro.
Praticamente um ano após o golpe, o Brasil se converteu na vergonha do
mundo. Tem um governo que não é respeitado nem pelos vizinhos mais próximos e
uma economia em queda livre – a despeito das promessas de "volta da
confiança". Hoje, por exemplo, o IBGE divulgou que as vendas do comércio
recuaram 7% em janeiro (leia aqui).
O
golpe, no entanto, não é um fracasso apenas econômico. Do ponto de vista moral,
é uma agressão aos brasileiros. Nada menos que nove ministros de Michel Temer,
além dele próprio, estão implicados em acusações de corrupção e caixa dois
eleitoral.
Além disso, uma pesquisa Ipsos divulgada nesta quinta-feira aponta que,
para 90% dos brasileiros, o Brasil segue no rumo errado com Michel Temer (leia aqui).
Diante
desse quadro, resta ainda uma saída honrosa para os 11 ministros do STF: anular
o golpe, por desvio de finalidade, e devolver o poder a Dilma Rousseff para que
ela convoque novas eleições, como é o desejo da população brasileira. É um
cenário provável? Não. Mas é
o único que devolveria um mínimo de dignidade ao Brasil.
De Brasília, Brasil 247, 31/03/2017
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