Diretas Já ou Brasil
Nunca Mais
Por Marcelo Zero (*)
O
moralismo hipócrita e neo udenista, utilizado para tirar a presidenta honesta do
poder, destruiu a democracia, a economia e a política do Brasil. O país está em
frangalhos. E tende a piorar.
Os
nossos moralistas de ocasião, que insuflaram paneleiros de classe média e
procuradores messiânicos contra Dilma e o PT, com discurso raso e equivocado,
agora se veem tragados pelo maelstrom das investigações
"purificadoras".
Cometeram o mesmo erro de certos setores da classe política alemã, que acharam que Hitler podia ser útil no combate aos "comunistas". Mas, uma vez deflagrados, esses processos de histeria coletiva adquirem dinâmica própria, intensificando-se com a crise política e econômica. A caixa de Pandora do protofascismo moralizante, uma vez aberta, é muito difícil de ser fechada. Em pouco tempo, o Reichstag (o parlamento) já está pegando fogo e as instituições democráticas são reduzidas a cinzas.
Cometeram o mesmo erro de certos setores da classe política alemã, que acharam que Hitler podia ser útil no combate aos "comunistas". Mas, uma vez deflagrados, esses processos de histeria coletiva adquirem dinâmica própria, intensificando-se com a crise política e econômica. A caixa de Pandora do protofascismo moralizante, uma vez aberta, é muito difícil de ser fechada. Em pouco tempo, o Reichstag (o parlamento) já está pegando fogo e as instituições democráticas são reduzidas a cinzas.
No
Brasil, com os últimos e sempre ilegais vazamentos da Lava Jato, o nosso
Reichstag já está em chamas. Isso tem consequências sérias.
Com
um presidente com 5% de popularidade, a tocar um ministério de acusados, e um
parlamento reduzido a cinzas, o poder real no Brasil deslocou-se
definitivamente do sistema de representação política para um consórcio formado
pelo grande capital, especialmente o internacional e o financeiro, o poder
judiciário, o ministério público e a mídia oligopolizada.
Obviamente,
essa não era a intenção inicial do golpe e da Lava Jato. O objetivo era (e é )
afastar, de forma definitiva, o PT e a esquerda do poder. Entretanto, não houve
como circunscrever as investigações apenas ao PT, como queriam. Com o tempo,
começou a ficar muito clara a seletividade escancarada e desavergonhada da Lava
Jato, que criminalizava o "caixa um", legal, do PT e tentava ignorar
as propinas, depositadas em contas no exterior, do PMDB e do PSDB. Os
vazamentos e os indiciamentos tinham de se generalizar, justamente para dar
credibilidade à seletividade.
Na
Alemanha, o sistema político foi destruído para que Hitler chegasse ao poder.
No Brasil, o sistema político está sendo destruído para impedir que Lula volte
ao poder. Vazamentos eventuais contra o PMDB, PSDB e DEM, apoiadores do golpe,
são o dano colateral inevitável do maelstrom deflagrado contra o projeto
progressista. Dano que poderá ser amainado nos misteriosos meandros da
"justiça".
Contudo,
o prejuízo geral e grave à política, à economia e à democracia já está feito.
Isso
suscita a questão: como o golpe e sua restauração neoliberal vão continuar?
Como tocar reformas tão impopulares, como a reforma da previdência e a
trabalhista, sem voto, sem legitimidade e com um Executivo e Legislativo com
altíssima rejeição? Acima de tudo, como o consórcio que concentra o poder real
no país vai tirar o Brasil da pior crise da sua história com um governo sem
nenhuma credibilidade e com o mais baixo índice de popularidade já registrado?
Há
duas possibilidades: 1) continuar, aos trancos e barrancos, com a
"solução" Temer até 2018, ou 2) dar o "golpe dentro do
golpe" e eleger indiretamente um novo governo formado por figuras
"ilibadas e técnicas".
Ora,
nenhuma das duas tem a menor condição de funcionar. A primeira por motivos
bastante óbvios. Ninguém aguenta mais a "solução" Temer, que virou um
problemão para os próprios apoiadores do golpe e, sobretudo, para o país. O
governo ilegítimo de Temer só prolonga e aprofunda a crise política e
econômica. Mesmo que consiga aprovar as reformas impopulares e fazer o trabalho
sujo para o consórcio golpista, não oferecerá saída viável para a crise.
Falta-lhe um mínimo de credibilidade.
Já
a solução 'técnica', que seria propiciada pelo "golpe dentro do
golpe", esbarra numa contradição fundamental: nas condições atuais, ela
significaria o enterro da classe política vigente e das suas lideranças colocadas
sob suspeita, mas ela teria de ser votada por essa mesma classe. Com o PSDB
atirado também no maelstrom, não sobraram atores políticos de relevo para o
"golpe dentro do golpe".
Porém,
mesmo que fosse promovida, tal "solução" teria exatamente a mesma probabilidade
de funcionar que a "solução Temer", pois ela também não possuiria
credibilidade e legitimidade.
O
grande engodo do golpe não foi ter substituído a presidente honesta pela
"turma da sangria". O grande engodo da Lava Jato partidarizada não
foi ter levado a opinião pública a acreditar que o PT havia criado o
"maior esquema de corrupção do Brasil".
O
grande engodo do golpe e da Lava Jato foi o de mudar em cento e oitenta graus
os rumos de todas as políticas do país (econômicas, sociais, externa, de
educação, saúde, previdência, etc.) sem fazer disputa política aberta e
democrática. A grande fraude do golpe e da Lava a Jato é política e
democrática: roubaram da população o poder de decidir seu próprio destino.
Ou
alguém aí votou para que se contribua meio século ininterruptamente para
conseguir se aposentar com proventos integrais? Para que o trabalho precário e
terceirizado, sem férias e outros direitos, se torne a norma no Brasil? Para
vender o pré-sal e a Petrobras a preço de bananas podres? Para vender as terras
do Brasil a estrangeiros? Para acabar com o Ciência sem Fronteiras e a Farmácia
Popular? Para "desinvestir" em Saúde e Educação por 20 anos? Claro
que não. Foi necessário um golpe para se fazer tudo isso.
Roubaram
do povo, fonte do poder democrático, a capacidade de decidir. A partir daí, a
criminalização de toda a classe política era apenas uma questão de tempo. Não
há corrupção pior do essa. Não há corrupção pior que o roubo da soberania
popular. O Brasil está sendo vendido e destruído sem um único voto.
O
cerne da crise brasileira é político. O Brasil não sairá da mais grave crise de
sua história sem política. Não há nada crível para ser colocado no lugar do
sistema de representação, mesmo com todos os seus problemas. Banqueiros, donos
de meios de comunicação, juízes e procuradores não têm voto. Uns têm dinheiro e
outros têm fama e prestígio ocasionais. Nenhum tem legitimidade para governar,
a não ser que se aposte numa nova forma de ditadura, com a substituição de
militares por juízes e procuradores.
A
política precisa reagir e sair do gueto moral em que foi jogada pelo golpismo e
a Lava Jato messiânica e partidarizada.
Mas
a classe política, por sua vez, não representará opção crível e legítima se não
for renovada pelo crivo do voto.
Não
serão delatores e corruptores à procura de absolvição e procuradores e juízes à
procura de holofotes que vão passar o "país a limpo". A única coisa
que passa um país democrático a limpo é o voto popular.
Portanto,
a única saída para a classe política e para o Brasil são eleições diretas já. A
urgência é necessária pela profundidade da crise e, sobretudo, para se evitar
que país inteiro seja vendido e destruído pela agenda retrógrada do golpe.
A
construção civil pesada e a engenharia nacional já se foram. O pré-sal, nosso
passaporte para o futuro, e a Petrobras estão sendo vendidos a preços
aviltados. Vêm aí a venda das terras a estrangeiros e a abertura do espaço
aéreo para o capital internacional. Subsolo, solo e ar brasileiros serão
leiloados. Prepara-se a privatização dos bancos públicos e, como disse o
presidente ilegítimo, de "tudo o que for possível". São grandes
negociatas que renderão muito dinheiro ao capital internacional e aos seus
associados golpistas. Procuradores, acredita-se, não interferirão. Continuarão
a perseguir Lula e seus pedalinhos.
No
próximo mês, o Estado de Bem Estar, já duramente golpeado pela emenda
constitucional do congelamento dos investimentos, será praticamente destruído
pela reforma contra a aposentadoria e a reforma contra o trabalhador.
No
ritmo em que a destruição do país vai, não haverá mais um Brasil em 2018.
Diretas
Já ou Brasil nunca mais.
(*) - Marcelo Zero é É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado
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