Maior revista alemã diz que Lula foi
alvo de julgamento político
Dado que a imprensa brasileira não é lá muito confiável, a cobertura
internacional merece ser observada. Ela aponta o modo como o Brasil tem sido
visto e como será tratado no contexto internacional, num futuro próximo.
Aqui na Alemanha, durante o fim de semana, foram publicadas diversas
matérias analisando a condenação do Presidente Lula.
Um dos periódicos mais importantes, a Der Spiegel, publicou uma longa
análise com o título “Julgamento contra o ex-Presidente do
Brasil: Estado no lodaçal”. A matéria já começa dizendo que, há um ano, Lula
teria dito à Spiegel não ter medo de prisão, e enfatiza: “por enquanto, ele não
tem mesmo motivo para isso”.
Até o juiz Sérgio Moro é citado. A revista afirma que, “por sensatez,
ele se absteve de determinar a prisão”, pois se Lula tivesse sido preso, “a
crise nacional se agravaria perigosamente”.
Sobre o juiz Sérgio, ainda conclui a Spiegel que “Moro confirmou com sua
sentença o que os críticos reprovam nele há muito tempo: o tratamento jurídico
do maior escândalo de corrupção da história do Brasil segue critérios
políticos, e não legais”,
Segundo a lógica alemã, a razão é visível: a acusação contra Lula, “ter
recebido um apartamento”, parece “uma ninharia em comparação com as acusações
contra o atual presidente Michel Temer e seus aliados”. A revista é categórica:
“Trata-se de centenas de milhões de dólares desviados para contas secretas na
Suíça e dinheiro de extorsão em malas de rodinha.”
Em comparação com os movimentos pró-impeachment, tão contrários à
corrupção, a Spiegel acha estranho que não haja milhões de pessoas indo às ruas
contra Temer. Afirma com todas as letras: “O principal objetivo das
manifestações de um ano atrás, conforme hoje se apresenta, não foi a luta
contra a corrupção: aqueles manifestantes queriam derrubar Rousseff e ver Lula
atrás das grades. O primeiro objetivo eles alcançaram, o segundo está mais
próximo do que nunca. Mas o preço que o país paga por isso é alto.”
Vai adiante: “Se o ex-Presidente for para a prisão, enquanto o odiado
Temer e seus aliados conservadores fogem”, muitos brasileiros “perderiam a
última fé no Estado de Direito - com consequências imprevisíveis para a
estabilidade política”.
Fazendo um balanço da Era Lula e citando seu favoritismo para as
eleições de 2018, conclui: “Comparado com o triste quadro do atual governo,
seus oito anos brilham ainda mais.”
O triste quadro dispensa comentários, mas um ponto, relativo à imagem
internacional do Brasil, chama atenção: “o Brasil já se despediu da política
externa, o governo está mais ocupado com a própria sobrevivência política”.
Ainda sobre as próximas gerações, diz a Spiegel: “A mudança geracional
nas próximas eleições terá um impacto mínimo. A maioria dos políticos jovens
são filhos e filhas da antiga classe dominante – sua família lhes fala mais de
perto do que princípios éticos. As forças de inércia são mais fortes que o
impulso para a mudança.”
Isto também, segundo a Spiegel, se aplica ao Judiciário. Refere-se
expressamente ao Supremo Tribunal Federal: “atua como uma barreira protetora
para Temer e seus aliados no Congresso”.
Voltando a Lula, vaticina: “Se ele não poder competir nas próximas
eleições, isso atrairá dúvida aos olhos de muitos brasileiros quanto à
legitimidade da eleição. A profunda crise sistêmica, que já dura três anos,
ofuscaria o mandato do próximo presidente - e, possivelmente, jogaria a
democracia no abismo.”
Por fim, mas não por último, salienta: “A solução para o dilema do
Brasil deve vir da política. O Judiciário é a instância errada. Como fazer
isso, não é claro. Mas uma coisa é certa: o veredicto final sobre Lula virá dos
historiadores, não do juiz Moro.”
Pergunta aos concidadãos: os alemães estão compreendendo a coisa toda?
Por Antonio Salvador, da Humboldt-Universität zu Berlin, em seu Facebook. Publicado em 19/07/2017 em Brasil 247
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