GUERREIRAS
Inocêncio Nóbrega (*)
Outrora, ao biografar-se determinado
personagem oficial, recorria-se a laudatórias palavras, sobretudo se se
tratasse de deputado ou senador. Pertenciam a instituições da maior
respeitabilidade, pelos fiéis compromissos à Nação. Tanto assim que nosso padre Cícero Romão
denunciava, por cabograma, em 1927, ao Sen. Epitácio Pessoa, cessão de largas
faixas de terras da Amazônia, na região do Tapajós, ao magnata da borracha, Henry
Ford, pelo presidente do Pará, Sr. Dionísio Bentes.
O representante
paraibano gozava de reconhecida austeridade e ardor cívico, qualidades comuns à
época. Não mais figurava, no cenário político, o Sen. gaúcho Pinheiro Machado, antes
falecido, com sua chaleira à mão, que semanalmente oferecia a seus
correligionários, onde residia, no Morro da Graça, Rio de Janeiro, a fim de
conquistar simpatias a sua eleição a Presidente da República. Uma espécie
embrionária de Temer.
São valores que se invertem,
ressalvadas honrosas exceções. Imaginava-se que a Lei nº 3.355, fosse mais além.
Após sobreviver 129 anos e 58 dias, foi ela impiedosamente violentada, na noite
de terça-feira última, não se respeitando, sequer, seu Art. 2º. Uma volta à
escravatura. Vítima de votos perdidos, o Dec.-lei 5.452 teve igual destino. Uma
represália a Getúlio. Praticamente os dois imolados no cadafalso da história,
montado em Brasília.
Guerreiras,
tais como Ângela Portela, Fátima Bezerra, Gleisi Hoffmann, Lídice da Mata,
Kátia Abreu, Regina Sousa e Vanessa Grazziotin, ombreiam-se a companheiros de
batalha; tudo fizeram para evitar-se a ignomínia e trágica cena perpetrada
contra a classe obreira. Relembraram aqueles
episódios vivenciados por duas heroínas brasileiras: a alagoana Ana Lins, que
só se entregou uma vez esgotada a munição, nas escaramuças contra o
autoritarismo de Pedro I; e a sóror Joana Angélica, sendo traspassada por arma
inimiga ao impedir que a soldadesca do gen. Inácio Madeira adentrasse na clausura de seu
Convento, em Salvador.
A democracia exige equilíbrio de forças e não grupos
de pressão a blocos minoritários. Ato
legítimo, em função da intolerância e prepotência do governo. Já houve precedentes
no Senado, em alguns momentos, ensinando este protesto como paradigma de
resistência e tomada de consciência às demais mulheres de parlamentos
brasileiros.
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