sábado, 15 de julho de 2017

Opinião - Artigo

GUERREIRAS
  Inocêncio Nóbrega (*)
Outrora, ao biografar-se determinado personagem oficial, recorria-se a laudatórias palavras, sobretudo se se tratasse de deputado ou senador. Pertenciam a instituições da maior respeitabilidade, pelos fiéis compromissos à Nação.  Tanto assim que nosso padre Cícero Romão denunciava, por cabograma, em 1927, ao Sen. Epitácio Pessoa, cessão de largas faixas de terras da Amazônia, na região do Tapajós, ao magnata da borracha, Henry Ford, pelo presidente do Pará, Sr. Dionísio Bentes. 
         O representante paraibano gozava de reconhecida austeridade e ardor cívico, qualidades comuns à época. Não mais figurava, no cenário político, o Sen. gaúcho Pinheiro Machado, antes falecido, com sua chaleira à mão, que semanalmente oferecia a seus correligionários, onde residia, no Morro da Graça, Rio de Janeiro, a fim de conquistar simpatias a sua eleição a Presidente da República. Uma espécie embrionária de Temer.
São valores que se invertem, ressalvadas honrosas exceções. Imaginava-se que a Lei nº 3.355, fosse mais além. Após sobreviver 129 anos e 58 dias, foi ela impiedosamente violentada, na noite de terça-feira última, não se respeitando, sequer, seu Art. 2º. Uma volta à escravatura. Vítima de votos perdidos, o Dec.-lei 5.452 teve igual destino. Uma represália a Getúlio. Praticamente os dois imolados no cadafalso da história, montado em Brasília.
         Guerreiras, tais como Ângela Portela, Fátima Bezerra, Gleisi Hoffmann, Lídice da Mata, Kátia Abreu, Regina Sousa e Vanessa Grazziotin, ombreiam-se a companheiros de batalha; tudo fizeram para evitar-se a ignomínia e trágica cena perpetrada contra a classe obreira.  Relembraram aqueles episódios vivenciados por duas heroínas brasileiras: a alagoana Ana Lins, que só se entregou uma vez esgotada a munição, nas escaramuças contra o autoritarismo de Pedro I; e a sóror Joana Angélica, sendo traspassada por arma inimiga ao impedir que a soldadesca do gen.  Inácio Madeira adentrasse na clausura de seu Convento, em Salvador.
          A democracia exige equilíbrio de forças e não grupos de pressão a blocos minoritários.  Ato legítimo, em função da intolerância e prepotência do governo. Já houve precedentes no Senado, em alguns momentos, ensinando este protesto como paradigma de resistência e tomada de consciência às demais mulheres de parlamentos brasileiros.
(*) – Inocêncio Nóbrega é Jornalista e Escritor - (inocnf@gmail.com), em 15/07/2017

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