O fico de cada um
Inocêncio Nóbrega (*)
Tentemos, neste breve comentário, repassar alguns
episódios que marcaram a vida política do Brasil, a partir de nove meses
anteriores a sua Independência, que em 2022 completará duzentos anos. Qualquer semelhança à realidade de hoje, é
mera coincidência.
Do Palácio das Necessidades vem a decisão de “fixar o
ano de 1822 para o Brasil reduzir-se à Colônia”. Trata-se de uma meta emanada
das Cortes de Lisboa, com desaprovação dos deputados brasileiros. Recomendavam
seu rigoroso cumprimento, ao determinar, antes de tudo, a volta incondicional
de D. Pedro. O brigue “infante D. Sebastião” foi portador de dois decretos,
nesse sentido.
A reação, entre nós, foi fulminante. Não se dispunha,
à época, do recurso dos protestos nas ruas, nem redes sociais, todavia bastaram
S. Paulo e Rio de Janeiro se mobilizar na obtenção de uma representação
popular, a ser entregue ao monarca. Oito mil assinaturas sugeriram a S. Alteza
a opção de ficar. Contra vantagens pessoais, que a metrópole lusa lhe oferecia,
respondeu ele, em memorável entrega do documento, no dia 9 de janeiro: “Para o
bem de todos e felicidade geral da Nação, diga ao povo que fico”!
Tais milhares de subscrições equivalem, mantida a
proporcionalidade populacional, a 81% das opiniões dos brasileiros, que
defendem a saída de Michel Temer. Fruto de uma combinação com a maioria dos
parlamentares, encastelados no Congresso
Nacional, tão conservadores quanto aos colegas
lusitanos, também decidiu ficar, alguns deles traidores de sua própria Pátria. Ficar
por interesses externos, contra a expectativa da população.
D. Pedro e Temer ficaram: o primeiro, como uma das
medidas prioritárias de seu império, unir nosso povo pela causa da
independência. José Bonifácio, seu conselheiro principal, a ele nada se assemelha
um Eliseu Padilha, por exemplo. Aquele paulista divulgava ao mundo os parâmetros
de nova nação, pelo o que acreditava na dignidade do futuro Imperador. Outro paulista, conspirando contra a soberania
nacional.
Assessorado por experientes mestres da corrução,
e ele próprio, seu Chefe, sem conhecimentos da nossa história, esse é o gênero
de governar.
Trago esse assunto para
reflexão de nós mesmos, em relação ao próximo pleito. Quem, sem credibilidade, não
deverá assumir a Presidência da República ou ocupar cadeiras parlamentares,
favorecendo interesses externos, em mandatos que coincidirão com o bicentenário
da nossa Independência. O momento que virá é histórico, tão valioso quão ao
primeiro centenário, em 1822, sob as mãos seguras e austeras do presidente
Epitácio Pessoa. Essa decisão é mais
cívica que eleitoral, por isso a reforma deve ser mais cultural que política.
(*) Inocêncio Nóbrega é Jornalista e Escritor
(e-mail: inocnf@gmail.com) Em 10/08/2017
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