Entidades
médicas apresentam manifesto pela vacinação compulsória
Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite e Sarampo
(Foto: Marcelo
Camargo/Arquivo/Agência Brasil)
Diante das baixas taxas de cobertura vacinal, particularmente em doses
do calendário infantil e do risco de reintrodução e recrudescimento de doenças
controladas ou já erradicadas no Brasil, entidades médicas elaboraram um
manifesto pela vacinação compulsória no país.
O documento, assinado pela Sociedade Brasileira de Imunizações,
Sociedade Brasileira de Pediatria e Sociedade de Pediatria de São Paulo, cita a
apreensão por parte dos profissionais da saúde e sugere ações que poderiam
contribuir para uma mudança de cenário.
O texto destaca a existência de dispositivos legais no Brasil que
estabelecem a obrigatoriedade da vacinação de crianças, como o Decreto n°
78.231, de 12 de agosto de 1976, que regulamenta o Programa Nacional
de Imunizações.
O artigo 29 prevê que “é dever de todo cidadão submeter-se e aos menores
dos quais tenha a guarda ou responsabilidade à vacina obrigatória”, enquanto o
parágrafo único cita que “só será dispensada da vacinação obrigatória a pessoa
que apresentar atestado médico de contraindicação explícita da aplicação da
vacina”.
O manifesto também faz referência à Lei n° 8.069, de 13 de
julho de 1990, que cria o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e
cujo artigo 14 diz que “é obrigatória a vacinação das crianças nos casos
recomendados pelas autoridades sanitárias”.
O documento destaca ainda o artigo 13, que diz que “casos suspeitos ou
confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente
comunicados ao conselho tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de
outras providências legais”, e o artigo 249, que prevê multa de três a 20
salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência, para quem
“descumprir dolosa ou culposamente os deveres inerentes ao poder familiar ou
decorrentes de tutela ou guarda, bem assim, determinação da autoridade
judiciária ou conselho tutelar.
Propostas
O texto propõe que todos os envolvidos com o ato vacinal, direta ou
indiretamente, conheçam, entendam, destaquem e respeitem os aspectos legais, as
implicações e as sanções que podem advir nos casos de recusa vacinal,
explicando aos indivíduos, pais e responsáveis todos esses aspectos.
Outra ação proposta é que se estabeleçam mecanismos legais que tornem
obrigatória a apresentação da carteira de vacinação atualizada de todas as
crianças e adolescentes como pré-requisito para matrícula em estabelecimentos
que prestem atenção a eles, como berçários, creches e escolas. Constatada
qualquer incompatibilidade entre o documento e o indicado pelo Programa
Nacional de Imunizações, o manifesto sugere que pais e responsáveis sejam
convocados e encaminhados a um serviço de saúde para que lhes sejam passadas as
informações sobre o calendário vacinal, por meio de profissionais capacitados.
De acordo com o texto, o ingresso de crianças e adolescentes em
estabelecimentos de cuidados e de ensino representa uma importante oportunidade
diagnóstica da situação vacinal e ferramenta para correção de falhas e
atualização do calendário preconizado pelo Ministério da Saúde, com a
possibilidade de se responder a dúvidas e questionamentos dos pais e
responsáveis sobre vacinação.
“As sociedades médicas signatárias
deste documento entendem que as propostas apresentadas se mostram como ações
efetivas na busca de uma melhor saúde pública para todos os brasileiros,
particularmente no que se refere ao controle das doenças imunopreveníveis, e se
colocam abertos a discussões em busca de caminhos e soluções junto às entidades
governamentais competentes”, destacou o manifesto.
Obrigatoriedade
Tenda de vacinação instalada na Quinta da Boa Vista, no Rio
(Foto: Fernando Frazão/Arquivo/Agência Brasil)
Em entrevista à Agência Brasil,
a presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Isabella Ballalai,
explicou que a proposta é chamar a atenção da população para algo que não é
novo – a obrigatoriedade da vacinação no país.
Para ela, os decretos e leis citados no documento podem ter sido
esquecidos ao longo do tempo, uma vez que, até a década de 90, era rotina que
toda criança apresentasse a carteira de vacinação no ato da matrícula.
“Hoje, a gente tem escolas que fazem, alguns estados que regulamentam
isso um pouco mais. E o que a gente está fazendo aqui é trazer isso de novo
para discussão, entendendo que não é nossa intenção simplesmente dizer “Vamos
obrigar”. Isso é o pontapé de um trabalho que pretendemos fazer com outras
sociedades, órgãos governamentais e órgãos representativos da educação.”
Isabella citou inquéritos internacionais que sugerem que mais de 70% dos
brasileiros acreditam na vacinação, enquanto 20% hesitam em meio a fake
news (notícia falsa).
Para ela, a prova de que a população confia nas doses é o índice de 97%
de crianças vacinadas contra a poliomielite e o sarampo após campanha em massa
feita pelo governo federal.
“Cadê essas pessoas contra a vacina? São poucas. É diferente da Europa e
dos Estados Unidos, que precisam obrigar quem é contra a se vacinar. Aqui, a
gente precisa criar um movimento que faça com que essas pessoas tenham a
proatividade de vacinar seus filhos”, disse.
A médica pediatra reforçou que a ideia não é embarreirar alunos em
instituições de ensino por falta de vacinas. A obrigatoriedade, segundo ela,
estaria relacionada apenas à apresentação da carteira de vacinação no ato da
matrícula, para que não haja risco de evasão escolar.
“Não podemos ter crianças brasileiras fora da escola porque
não estão com a carteira de vacinação em dia. Por isso, volto a dizer: o
manifesto é uma forma de colocar o assunto em pauta”, concluiu.
O texto será encaminhado ao Ministério da Saúde, ao Ministério da
Educação, ao Poder Legislativo e a representações e entidades médicas de outras
especialidades.
Do Rio de Janeiro, Paula Laboissière(*), enviada especial
da Agência Brasil, em 28/09/2018, às 06h18
(*) - A repórter viajou a
convite da Sociedade Brasileira de Imunizações



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