Fenômeno que
confirmou a Teoria da Relatividade completa 100 anos
Fenômeno do Eclipse do sol (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
O Observatório Nacional abriu hoje (24), com um seminário especial, as
comemorações do Centenário do Eclipse de Sobral (CE), que comprovou a Teoria da
Relatividade Geral, do físico alemão Albert Einstein. A Teoria da Relatividade
foi proposta por Einstein em 1915 e é um dos pilares da física moderna ao lado
da mecânica quântica. O eclipse de Sobral completa 100 anos no próximo dia 29.
Na avaliação do astrofísico e pesquisador do Observatório Nacional
Jailson Souza de Alcaniz, o eclipse de Sobral foi a primeira comprovação
observacional da teoria da relatividade geral e abriu caminho para uma nova
teoria da gravitação. "Quando é demonstrado, pela observação, que a teoria
de Einstein é correta no campo gravitacional, isso abre caminho para outros
testes. A relatividade geral tem pouco mais de 100 anos agora e a grande
maioria dos experimentos e observações é inquestionável", disse o
pesquisador.
Jailson Alcaniz lembrou que depois do fenômeno de Sobral vieram outras
evidências. Segundo ele, a relatividade geral explica muito bem a existência,
por exemplo, dos chamados buracos negros supermassivos, encontrados
principalmente nos centros das galáxias. Recentemente, as ondas gravitacionais
previstas pela teoria de Einstein foram detectadas e a velocidade de propagação
dessas ondas é exatamente a velocidade da luz, conforme previsto pelo físico
teórico alemão.
Segundo o astrofísico, em várias escalas de comprimento diferentes,
sejam escalas mais locais do sistema solar, na galáxia, e também fora dela, a
relatividade geral tem se mostrado uma teoria de gravitação bem consistente
"e, possivelmente, muito próximo do que deve ser a realidade".
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Desafio
Jailson Alcaniz disse que o grande desafio agora consiste em se estudar
o universo em grandes escalas na cosmologia. Isso se explica porque, em 1998,
foi descoberto que o universo não só se expandia, como foi comprovado em 1929,
mas também que essa expansão ocorria aceleradamente. Para explicar isso na
relatividade geral, o pesquisador disse ser necessário introduzir o conceito de
uma componente extra no universo que se denomina energia escura.
"Só que a gente não sabe nada sobre a origem dessa componente, que
deveria contribuir com cerca de 70% da composição do universo. Como a gente não
sabe nada sobre a origem e a natureza dela, uma parcela da comunidade
científica vê esse fenômeno da aceleração cósmica como, possivelmente, uma
primeira evidência de que em escalas muito grandes, cosmológicas, a
relatividade geral, talvez, precise ser substituída por uma teoria mais geral
do campo gravitacional, que explique a aceleração do universo sem a necessidade
de postular a existência de uma energia escura", explicou.
De acordo com o astrofísico, o grande desafio agora da relatividade
geral é a compreensão sobre o campo gravitacional. Jailson Alcaniz disse que
isso virá a ocorrer nas próximas décadas, quando as grandes campanhas
observacionais da estrutura de grande escala do universo vão confirmar se
existe um desvio da relatividade geral impressa na distribuição de galáxias ou
se, de fato, a relatividade geral é comprovada não só em escalas menores, como também
na maior escala, que é a escala cosmológica. "É um desafio que a teoria
tem para a próxima década".
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Cooperação
O Brasil já tem cientistas trabalhando com essa finalidade. O
Observatório Nacional lidera, junto com pesquisadores espanhóis, um grande projeto
que vai observar "centenas de milhões de galáxias" a partir do
próximo ano, disse Jailson Alcaniz.
Esse projeto permitirá fazer esse tipo de pesquisa que é procurar um
"print" ou da relatividade geral ou de alguma teoria de
gravidade em queda na distribuição de galáxias em grande escala no universo. O
Brasil participa de algumas parcerias que vão ter como objetivo esse teste da
relatividade geral e da gravitação.
Hoje (24), termina o encontro, na Espanha, entre cientistas do
Observatório Nacional e espanhóis. Alcaniz disse, entretanto, que a observação
"pra valer" começa em 2020. "Mas já no primeiro ano a gente vai
ter dados para iniciar essa pesquisa e colocar isso para funcionar".
Se as suposições forem comprovadas, o astrofísico assegurou que terá uma
repercussão e importância tão grandes como foi o eclipse de Sobral. "Você
hoje mostra, a partir das observações, que a teoria da relatividade geral
funciona muito bem nas escalas menores, mas em escala cosmológica tem que ser
substituída por uma outra".
Para a física teórica e para a compreensão da redução gravitacional, do
espaço, do tempo e da história do universo, "isso seria uma
revolução", disse o pesquisador.
Do Rio de Janeiro, Alana Gandra , repórter da
Agência Brasil, em 24/05/2019, às 16h06
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