Rede Globo
aposta alto no retrocesso
por Messias Pontes (*)
As massivas manifestações de protestos que tomaram as ruas do
País nas duas últimas semana apontam para o despertar na consciência coletiva a
necessidade de mudanças estruturais inadiáveis. No primeiro momento, a velha
mídia conservadora, venal e golpista, com a Rede Globo à frente, tratou de
criminalizar a justa e oportuna manifestação em favor da redução da tarifa dos
transportes públicos na capital paulista.
O ultrarreacionário e
amestrado Arnaldo Jabor foi o primeiro a demonizar o movimento reivindicatório
do MPL – Movimento Passe Livre e colocando no mesmo patamar a justa
reivindicação e os atos de vandalismo praticados por elementos pagos para isto.
Logo em seguida a direção da emissora percebeu que o movimento poderia servir a
seus propósitos golpistas e mandou Jabor fazer autocrítica e elogiar o
movimento. Como ele é pau-mandado, atendeu de pronto.
Da condenação inicial, a Globo passou a conclamar a população
a ir às ruas protestar contra o governo da presidenta Dilma Rousseff. A
emissora da famiglia Marinho é useira e vezeira em omitir informações que não
interessa aos seus inconfessos interesses. O mais simbólico de todas foi a
negação da campanha das Diretas-Já, na década de 1980, que exigia eleição
direta para presidente da República, o maior movimento de massas de toda a
história brasileira.
No dia 25 de janeiro de 1984 foi realizada uma manifestação
na Praça da Sé, em São Paulo, com centenas de milhares de pessoas, transmitida
pelas demais emissoras, mas simplesmente ignorada pela Globo. O Jornal Nacional
daquele dia noticiava que milhares de pessoas estavam nas ruas de São Paulo
comemorando aniversário da cidade. Nenhuma palavra sobre a campanha das Diretas
e muito menos sobre as lideranças que se reversavam no palanque: Lula, FHC,
Franco Montoro, Ulisses Guimarães, Mário Covas, José Richa, Leonel Brizola,
João Amazonas e muitos outros.
Na última quinta-feira a Globo fez uma coisa inédita desde a
sua fundação: deixou de levar ao ar a sua novela e passou mais de três horas, ininterruptas
e sem comerciais, mostrando as manifestações em São Paulo, Rio de Janeiro e outras
capitais. Essa edição especial ancorada pelo William Bonner intercalava as
imagens das manifestações do dia com as da campanha do Fora Collor em 1992 que
resultou no impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello. A Globo
aposta alto no impeachment da presidenta Dilma Rousseff e na volta dos tucanos
neoliberais entreguistas. Para a famiglia Marinho o retorno dos militares
golpistas seria bem-vindo.
A insistência em mostrar atos de vandalismo de um grupelho
pago para depredar monumentos, prédios e instituições públicas revela o desejo
da Globo de insinuar o caos, e que este está fora de controle e portanto é
necessário que se exija o impeachment da presidenta Dilma. A emissora incentiva
os protestos contra os gastos com a construção e reforma de estádios de futebol
com vistas as Copas das Confederações e do Mundo, mas é quem mais se locupleta
delas. Ela bate porque sabe que quanto mais bate mais dinheiro vão para os seus
cofres. O exemplo mais cristalino é a fábula de recursos que a Secretaria de
Comunicação da Presidência da República (Secom), tendo à frente a jornalista
Helena Chagas, injeta em toda a velha mídia, e em especial na Globo. Mas a
Globo continua batendo forte no governo e abrindo espaço para o demotucanato.
O GAFE (Globo, Abril, Folha e Estadão) e toda a velha mídia
conservadora, venal e golpista enfatizam e incentivam um grupelho fascista infiltrado
no movimento a condenar e agredir militantes de partidos e organizações de
esquerda. Incorporando o espírito de Benito Mussolini, condenam a política e os
políticos, como se todos fossem nocivos e, por isso, dispensáveis.
É oportuno transcrever a nota do MPL publicada na sexta-feira
20
“O Movimento Passe Livre foi às ruas contra o aumento da
tarifa. A manifestação de hoje faz parte dessa luta: além de comemoração da
vitória popular pela revogação, reafirmamos que lutar não é crime e
demonstramos apoio às mobilizações de outras cidades. Contudo, no ato de hoje
presenciamos episódios isolados e lamentáveis de violência contra a
participação de diversos grupos”.
Diz ainda a nota: “O MPL luta por um transporte
verdadeiramente público, que sirva às necessidades da população e não ao lucro
dos empresários. Assim, nos colocamos ao lado de todos que lutam por um mundo
para os de baixo e não para o lucro dos poucos que estão em cima. Essa é uma
defesa histórica das organizações de esquerda, e é dessa história que o MPL faz
parte e é fruto”.
E conclui a nota: “O MPL é um movimento social apartidário,
mas não antipartidário. Repudiamos os atos de violência direcionados a essas
organizações durante a manifestação de hoje, da mesma maneira que repudiamos a
violência policial. Desde os primeiros protestos, essas organizações tomaram
parte na mobilização. Oportunismo é tentar excluí-las da luta que construímos
juntos. Toda força para quem luta por u8ma vida sem catracas”.
MPL-SP.
(*) Messias Pontes é jornalista
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