PSDB barra investigações sobre cartel na Assembleia
A base de sustentação do governador Geraldo Alckmin
(PSDB) na Assembleia Legislativa de São Paulo conseguiu blindar o Palácio dos
Bandeirantes contra investigações sobre o cartel que atuou em licitações do
Metrô e da CPTM durante sua administração e em outros governos tucanos.
Sem número suficiente de deputados para instalar
uma CPI, a oposição tentou convocar autoridades, empresários e consultores
envolvidos com o cartel a prestar depoimentos em duas comissões.
Desde agosto, foram apresentados 38 requerimentos
para que fossem chamadas 26 pessoas. Dessas, só três foram ouvidas pelos
deputados.
As comissões em que os pedidos foram feitos – de
Transportes e Infraestrutura, ambas com maioria governista – adiaram a análise
de vários pedidos indefinidamente, rejeitaram outros e ainda transformaram
convocações em convites, o que desobriga o convidado de comparecer.
"Eles estão obstruindo justamente para
dificultar o processo investigativo", disse o líder dos petistas na
Assembleia, Luiz Cláudio Marcolino.
Os deputados governistas dizem que não houve
blindagem e que as três pessoas ouvidas eram as mais relevantes: o secretário
dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, e os atuais presidentes do
Metrô, Luiz Antônio Pacheco, e da CPTM, Mário Manuel Bandeira.
"As pessoas mais importantes foram chamadas, e
todos os deputados puderam tirar suas dúvidas. Foi tão transparente que nenhum
questionou qualquer resposta dada por eles", disse João Caramez (PSDB),
presidente da Comissão de Transportes.
O requerimento que levou Fernandes à Assembleia foi
uma concessão da base de Alckmin para enfraquecer o discurso do PT, que usava o
argumento de que as comissões não investigavam o caso para tentar criar uma
CPI.
Para adiar a análise dos requerimentos, os aliados
do governador se valem de uma norma do regimento da Assembleia que permite que
cada deputado peça vistas do pedido uma vez, adiando a votação por uma semana.
A oposição usa a mesma tática para adiar votações e
evitar que pedidos sejam derrubados nos dias em que há maioria governista
presente na reunião da comissão.
Entre as pessoas que deixaram de depor está Pedro
Benvenuto, ex-assessor da Secretaria de Transportes Metropolitanos acusado de
repassar informações do Metrô e da CPTM a um consultor.
Sua convocação foi transformada em convite a pedido
de um deputado do PPS e aprovada, mas ele não compareceu no dia marcado.
Os presidentes do Cade (Conselho Administrativo de
Defesa Econômica), Vinicius Carvalho, e da Siemens, Paulo Stark, e o vereador
Andrea Matarazzo (PSDB) também ignoraram convites das comissões e não
compareceram.
Estão pendentes na pauta da Comissão de Transportes
pedidos para ouvir os executivos da Siemens que denunciaram o cartel ao Cade,
entre eles Everton Rheinheimer, que disse à Polícia Federal que políticos do
PSDB receberam propina do esquema.
A comissão derrubou ainda requerimentos para ouvir
João Roberto Zaniboni, ex-diretor da CPTM que recebeu US$ 836 mil numa conta na
Suíça, e José Fagali Neto, consultor que recebeu informações de Pedro
Benvenuto.
Para os governistas, os pedidos feitos pela
oposição são "eleitoreiros" e "não passam de politicagem".
"Se deixar por conta deles, todo dia tem dois ou três servidores pra ser
ouvidos", disse Dilador Borges (PSDB), da Comissão de Infraestrutura.
"Não nos podemos dar o luxo de ficar ouvindo as pessoas por ouvir."
A oposição também tentou evitar constrangimentos.
Quando o tucano Caramez pediu que o presidente do Cade fosse chamado para
explicar suas ligações com o PT, foi a vez de o deputado petista Gerson
Bittencourt pedir o adiamento do requerimento.
Por: Paulo Gama - Publicado hoje,
23/12/2013, às 02h40, na Folha de São Paulo. Ilustração do blog.
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