Cid, Kassab e a nova
base de Dilma
Por Leonardo Attuch (*)
Ao contrário da percepção de
vários analistas, a maior dificuldade do governo Dilma, no segundo mandato,
está na política – e não na economia. No campo econômico, bastarão pequenos
ajustes, no setor de combustíveis, e uma sinalização mais forte de contenção
fiscal para restaurar a confiança empresarial. O que provavelmente será feito
pela nova equipe econômica, que será anunciada após a reunião do G20, na
Austrália, seja ela chefiada por Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco
Central, ou Nelson Barbosa, ex-secretário do Ministério da Fazenda.
Na política, no entanto, o nó é
mais complicado. Dilma hoje enfrenta a rebelião de um PMDB atemorizado com as
possíveis revelações da Operação Lava Jato, que pode tragar algumas de suas
principais lideranças. É nesse ambiente conturbado que os movimentos de dois
personagens se tornam decisivos na montagem da nova base de apoio ao governo no
Congresso Nacional: o governador do Ceará, Cid Gomes, e o ex-prefeito de São
Paulo, Gilberto Kassab.
Estimulado pelo irmão Ciro, que
diz que Dilma precisa "de melhores companhias", num recado direto ao
PMDB, Cid tenta montar uma grande frente de esquerda. Ela incluiria os
parlamentares do Pros, partido que hoje abriga os dois políticos cearenses,
além de representantes do PDT e, sobretudo, do PSB – onde muitos já se
arrependem do apoio a Aécio Neves no segundo turno da disputa presidencial. Com
um novo partido ou esta frente, Cid espera arregimentar cerca de 70 parlamentares.
Num movimento semelhante, mas
realizado ao centro, Kassab, que já tem o PSD, irá recriar o antigo Partido
Liberal, para atrair nomes dispostos a aderir à base de apoio ao governo. Em
seguida, as duas siglas seriam fundidas numa só e ele chegaria perto de 70
deputados, rivalizando com PT e PMDB. Não por acaso, Cid e Kassab estiveram
entre os primeiros políticos recebidos por Dilma nesta semana de retomada dos
trabalhos, após suas férias na base naval de Aratu, na Bahia.
A diferença entre Cid e Kassab é
o tratamento em relação ao PMDB. Enquanto o primeiro gostaria de libertar o
governo Dilma da tensa aliança com os peemedebistas, Kassab é mais realista.
"O problema é quantitativo", diz ele, aos interlocutores mais
próximos. O PT e seus novos aliados, mesmo turbinados, não garantem uma maioria
estável ao governo Dilma, que, como disse o senador Aécio Neves (PSDB-MG), irá
enfrentar uma "oposição revigorada por seus 51 milhões de votos". Por
isso mesmo, o presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que seu
partido ainda é "insubstituível" na relação com o PT.
(*) - Leonardo Attuch é jornalista, editor do site www,brasil247. Publicado em 08/11/2014
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