Eduardo Cunha sobre propina: ‘Aqui se
atrasa, mas não se falha’

O presidente da Câmara,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ao telefone, durante sessão da Câmara,
em 2015 (Foto: Givaldo Barbosa/Agência O Globo)
Um relatório da Polícia Federal produzido a partir de mensagens
capturadas do telefone do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso no âmbito
da Lava-Jato, mostra que os tentáculos do político alcançavam as mais diversas
áreas.
O ex-deputado influenciava nomeações para cargos públicos, distribuição
de propina para o PMDB e até vagas de internação de hospitais do Rio. Quando o
assunto era o pagamento de vantagens indevidas, ele se garantia. “Chegou!
Valeu. Agradeça lá”, escreveu o ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves
(PMDB-RN), também preso, em mensagem de 2012. “Claro, não tinha dúvidas. Aqui
se atrasa, mas não falha”, responde Cunha.
O diálogo foi um dos muitos em que Cunha e Alves acertam suposto
pagamento de propina, muitas vezes oriunda de empreiteiras. No dia 15 de agosto
de 2012, Alves havia cobrado o pagamento de propina que viria da Carioca
Engenharia, segundo a interpretação dos investigadores. Aparentemente, a
cobrança deu certo, porque o agradecimento foi repassado a Cunha no dia
seguinte.
As trocas de mensagens foram feitas ao longo de 2012 e estavam no
celular de Cunha, que foi apreendido pela PF em buscas feitas em dezembro de
2015. O relatório foi concluído em dezembro de 2016 e enviado ao Supremo
Tribunal Federal (STF). Somente agora foi retirado o sigilo do documento. O
material será encaminhado ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que
poderá juntá-lo a inquéritos que já estão em curso na Corte.
Em outros diálogos, Cunha aparece dando orientação para que outros
parlamentares atuem por ele em medidas provisórias.
Em 2012, Cunha mandou mensagem para o deputado Hugo Motta (PMDB-PB) para
atuar em nome dele. “Acredita-se que o ex-parlamentar (Cunha) utilizaria,
supostamente, do deputado Hugo Motta, também do PMDB, para interceder na MP
561”, diz o relatório da PF. Na mensagem, Cunha digitou: “Vou pôr uma emenda
para vc assinar que é do veto da 561”. Motta respondeu: “Ok, aguardo. Abs!!!”.
Em outra ocasião, uma assessora de Cunha chamada Claudia Medeiros enviou
ao chefe um e-mail com uma minuta de requerimento e o questiona sobre a possibilidade
de envio ao deputado Hugo Motta para assinatura. A mensagem foi em agosto de
2012. “Posso mandar para o Hugo Motta assinar?????”, diz a mensagem da
assessora.
O requerimento era para o Ministério de Minas e Energia enviar
informações sobre a parceria da Petrobras Bio Combustível com a Açúcar Guarani
SA e o Grupo Tereos. Para a PF, o requerimento foi apenas enviado para Hugo
Motta assinar. Motta informou que não se lembrava especificamente do assunto,
mas que era comum conversar com os colegas sobre atividade parlamentar.
Empenho para nomear aliados
O relatório da PF também conta como Eduardo Cunha influenciava a
nomeação de aliados em cargos públicos. “Informações levantadas ao longo de
análises desenvolvem a hipótese de Eduardo Cunha fazer uso da função
parlamentar para viabilizar esquemas ilícitos que o favoreciam. Para manter
esquemas utilizando a função política, o ex-deputado se empenhava em controlar
cargos estratégicos através de indicação política. Para tal finalidade, exercia
pressões no governo em conjunto com sua base de aliados”, dizem os
investigadores
Em troca de mensagens com o senador Romero Jucá (PMDB-RR), Cunha reclama
de nomeações recentes e diz que não saiu a da Caixa Econômica Federal. “Saiu no
DO já a nomeação do BNDES e não nosso nome. Saiu Conab também e nada de CEF”,
reclamou Cunha. “Vamos falar com Palocci. Saiu o q na Conab?”, indagou Jucá.
“PTB. Não é nosso. Nosso não sai nada, é incrível”, disse Cunha. E Jucá: “Vamos
agir”.
Em outra conversa, Cunha pergunta se Jucá esteve com Edison Lobão, que,
na época, era ministro de Minas e Energia. Jucá confirma que estava com ele
naquele momento, e Cunha lembrou: “Não esquece internacional e biodiesel”. Jucá
respondeu: “Conversamos. Ficou de cobrar as indicações com Palocci”. A PF
afirma que, “quando se referiu a ‘internacional e biodiesel’, acredita-se que
Eduardo Cunha fazia menção à Diretoria Internacional da Petrobras e à empresa
subsidiária Petrobras Combustível. Essa conclusão advém do contexto de que a
Petrobras e suas subsidiárias são vinculadas ao Ministério de Minas e Energia,
no qual Edison Lobão ocupava cargo máximo”.
Segundo o relatório da PF, a Diretoria Internacional da Petrobras era
cargo indicado da cota do PMDB, e Jorge Zelada o exerceu de 2008 a 2012.
De
Brasília, Carolina Brígido/Catarina Alencastro, O Globo, em 07/08/2017, às 09h08
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