Mesmo com PIB fraco, BC acelera ritmo de alta e fixa juro em 8% ao ano
O fraco desempenho do PIB, que avançou somente 0,6% no primeiro
trimestre deste ano, não impediu o Comitê de Política Monetária
(Copom) do Banco Central de acelerar o ritmo de aumento dos juros com o
objetivo impedir uma alta maior da inflação – mesmo "freando" mais a
economia brasileira.
A autoridade monetária anunciou, na noite desta
quarta-feira (29), uma elevação de 0,5 ponto percentual na taxa básica da
economia, de 7,5% para 8% ao ano. A decisão da diretoria do BC foi unânime.
Foi o 2º aumento seguido, que levou juros ao maior
patamar em um ano.Decisão foi tomada por unanimidade pelos membros do Copom.
Com isso, o BC confirmou o tom mais duro adotado na
semana passada pelo presidente da instituição, Alexandre Tombini, que afirmou
que a autoridade monetária está "vigilante" e que fará o que for "necessário" para reduzir a inflação.
Esse foi o segundo aumento consecutivo promovido
pelo Banco Central na taxa de juros, que atingiu o maior patamar desde maio do
ano passado, quando estava em 8,5% ao ano. A expectativa do mercado financeiro
é de que a taxa básica da economia brasileira volte a subir no decorrer deste
ano, terminando 2013 em 8,25% ao ano.
Expectativa do
mercado
A expectativa do mercado financeiro na terça-feira, um dia antes da reunião,
refletida na curva de juros do mercado futuro, era de que o BC promovesse uma
elevação justamente de 0,5 ponto nos juros, para 8% ao ano. Após o anúncio do
PIB, o mercado ajustou para baixo suas apostas e a curva de juros passou a
"embutir" uma alta menor no curto prazo, entre 7,5% e 8% ao ano –
mostrando divisão nas apostas das instituições financeiras no mercado futuro.
Após a reunião, o BC divulgou o seguinte
comunicado: "Dando prosseguimento ao ajuste da taxa básica de juros, o
Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 8,00% ao ano, sem
viés. O Comitê avalia que essa decisão contribuirá para colocar a inflação em
declínio e assegurar que essa tendência persista no próximo ano".
Sistema de
metas e objetivo do BC
Pelo sistema de metas que vigora no Brasil, o BC tem de calibrar os juros para
atingir as metas pré-estabelecidas, tendo por base o IPCA. Ao subir os juros, o
BC atua para controlar a inflação e, ao baixá-los, julga, teoricamente, que a
inflação está compatível com a meta. Para 2013 e 2014, a meta central de
inflação é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais
para cima ou para baixo. Deste modo, o IPCA pode ficar entre 2,5% e 6,5% sem
que a meta seja formalmente descumprida.
Entretanto, o próprio Banco Central tem previu, no
relatório de inflação divulgado no fim de março, um IPCA próximo de 6% neste
ano. Os dados mostram que a instituição manteve a taxa básica de juros
inalterada na mínima histórica, em 7,25% ao ano desde outubro do ano passado,
elevando-a somente em abril, mesmo com a deterioração do cenário de inflação
registrado no primeiro trimestre deste ano.
Em abril, o IPCA somou 0,55% e, no acumulado do
ano, ficou em 2,50%, acima dos 1,87% relativos a igual período de 2012. No
acumulado em 12 meses até abril deste ano, o IPCA teve alta de 6,49% e,
assim, ficou no limite do teto da meta de inflação estabelecida pelo Conselho
Monetário Nacional, que é de 6,5%.
"No dicurso, eles falam em inflação mais baixa
a partir do segundo semestre. Antes, diziam que seria abaixo do ano passado [5,84%],
mas eles retiraram isso. Eles querem que a inflação desacelere no segundo
semestre e assim continue no ano que vem, mas não te dão o nível. É uma
convergência [para a meta central de 4,5%] mais gradual do que o mercado
gostaria", avaliou Rodrigo Melo, economista da Mauá Investimentos.
Rendimento da
poupança
Com o novo aumento dos juros básicos por parte do Banco Central, a
rentabilidade da caderneta de poupança também subiu. Pelas regras definidas
pelo governo no ano passado, a poupança passou a ser atrelada aos juros básicos
da economia, rendendo 70% da aplicação, mais a Taxa Referencial, quando a taxa
básica estiver abaixo de 8,5% ao ano. Isso para aplicações feitas de 4 de maio
de 2012 em diante.
Com juros em 7,5% ao ano, antes da decisão de hoje,
a poupança estava sendo remunerada em 5,25% ao ano mais TR. Com o aumento da
taxa básica de juros pelo BC para 8% ao ano, a poupança passou a render 5,6% ao
ano, mais TR.
Antes da mudança das regras, em abril do ano
passado, a poupança rendia, pelo menos, 6,17% ao ano, mais TR. Na poupança,
porém, não é cobrada taxa de administração e nem Imposto de Renda (IR) - ao
contrário dos investimentos em fundos. Os recursos podem ser sacados a qualquer
momento.
Com a Selic atual [8% ao ano] a poupança vai ter um
rendimento superior aos dos fundos na maioria das situações, segundo
levantamento feito pela Associação Nacional de Executivos de Finanças,
Administração e Contabilidade (Anefac).
Mesmo com rendimento mais baixo, perdendo para a
inflação em 2012, especialistas avaliam que a a nova caderneta de poupança
ainda é uma boa opção de investimento para pequenos poupadores, para pessoas
que buscam aplicações de curto prazo ou que procuram formar um "fundo de
reserva" para emergências – uma vez que não há incidência do IR.
Juros reais
Com o aumento da taxa básica para 8% ao ano, o Brasil passou a ter juros reais
(após o abatimento da inflação prevista para os próximos 12 meses) de 2,1% ao
ano, com alta de 0,5 ponto percentual, segundo levantamento do MoneYou.
Com isso, a taxa brasileira ficou em quarto lugar
no ranking mundial de juros reais, abaixo da China, da Rússia e do Chile. A
taxa real de juros de 40 países pesquisados pelos economistas está negativa em
0,5% ao ano.
Alexandro Martello Do G1, em Brasília