Filho de
ministro do TCU é alvo da 45ª fase da Lava-Jato
Tiago Cedraz é acusado de vender informações a empresário (Foto:
Reprodução)
A Polícia Federal (PF) deflagrou
na manhã desta quarta-feira a 45ª fase da Lava-Jato, chamada Operação Abate 2.
Na mira está o advogado Tiago Cedraz, filho do ministro do Tribunal de Contas
da União (TCU), Aroldo Cedraz. Ele é alvo de mandados de busca e apreensão e
também foi intimado a depor na PF. Os mandados de busca e apreensão são
cumpridos nas cidades de Salvador (BA), Brasília e Cotia, na Grande São Paulo.
Segundo as investigações foram
identificados "novos interlocutores" que ajudaram a beneficiar a
empresa americana Sargeant Marine, fornecedora de asfalto para a Petrobras.
Eles seriam dois advogados que teriam ajudado o esquema e teriam recebido
comissões em contas na Suíça. Também teria sido detectada a participação de um
ex-deputado federal e uma assistente dele no esquema.
O advogado Tiago
Cedraz foi citado pela primeira vez na Lava-Jato pelo empresário e delator
Ricardo Pessoa, da ex-presidente da UTC Engenharia. Ele afirmou em
depoimento à Lava-Jato que obtinha informações privilegiadas no TCU sobre seus
contratos com a Petrobras, sendo o advogado seu intermediário.
O empresário entregou à
Procuradoria-Geral da República (PGR) tabela com anotações de pagamentos de R$
2,2 milhões ao filho do então presidente da Corte, Tiago Cedraz. Parte dos
valores teria sido paga em espécie. No fim do ano passado, a Polícia Federal
pediu a quebra dos sigilos bancário e fiscal de Aroldo Cedraz, por suspeita de
corrupção e tráfico de influência.
A PF descobriu vários telefonemas
do escritório de Tiago Cedraz para o gabinete de outro ministro do TCU,
Raimundo Carreiro, mas o ministro argumentou que isso não significava que as
ligações eram dirigidas a ele ou que praticou alguma irregularidade.
A 45ª Fase da Lava-Jato, porém,
está ligada às revelações de Bruno Luz, filho do lobista Jorge Luz, ambos
presos pela Lava-Jato. Eles disseram que querem colaborar com as investigações
Bruno Luz afirmou que ele e o pai
foram apresentados a Luiz Eduardo Andrade (Ledu), representante da Sargeant
Marine, entre o fim de 2009 e início de 2010. A empresa é uma das principais
fornecedoras de asfalto do mundo.
Andrade teria reclamado que não conseguia
fechar contratos com a Petrobras e Jorge Luz teria buscado ajuda do então
diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa. Costa teria dito,
porém, que já havia um "compromisso" relacionado à compra de asfalto
e Jorge Luz teria entendido que era necessário "apoio político" de
Cândido Vaccarezza e do também deputado Vander Loubert (PT-MS).
A Sargeant Marine conseguiu se
tornar fornecedora da Petrobras, mas continuou, segundo Bruno Luz, insatisfeita
com os preços negociados. O assunto, segundo ele, foi discutido com a
participação de gerentes da estatal, de Jorge Luz e de Tiago Cedraz. Também
teria feito parte do grupo o ex-deputado federal Sérgio Tourinho Dantas, que na
época era sócio de Tiago Cedraz no escritório Cedraz & Tourinho Dantas.
Atualmente, Tiago Cedraz é um dos
donos do Cedraz Advogados, que fica no Lago Sul, em Brasília. Sérgio Tourinho
Dantas é sócio do Brandão & Tourinho Dantas, que teria dois escritórios, um
em Brasília e outro em Salvador.
Operação abate
Deflagrada na última sexta-feira,
a primeira etapa da Operação Abate (44ª fase da Lava-Jato) mirou o
favorecimento de empresas estrangeiras em negociações com a Petrobras e levou
à prisão o ex-deputado federal Cândido Vaccarezza (PTdoB), ex-líder dos
governos Lula e Dilma. Também foi preso o ex-gerente da Petrobras Marcio Aché.
As investigações apontaram que o
ex-parlamentar teria recebido US$ 478 mil entre 2010 e 2012 para intermediar
contratos sem licitação entre a Sargeant Marine e a Petrobras.
Foram encontrados R$ 122 mil em
espécie durante a apreensão realizada no apartamento de Vaccarezza, na zona
leste de São Paulo, na própria sexta. Vaccarezza
foi liberado ontem da prisão temporária de cinco dias.
De São Paulo, Cleide
Carvalho/Juliana Arreguy, de O Globo, 23/08/2017 08h53
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