Ibope: a força de Lula e o desespero dos adversário
Por Tereza Cruvinel (*)
Esta primeira pesquisa Ibope sobre a sucessão presidencial
representa uma espécie de marco zero da corrida, e Lula larga com vários corpos
de vantagem sobre todos os concorrentes. Certamente por isso mereceu tão pouco
destaque por seu patrocinador, jornal O Globo. É preciso olhar com
mais atenção para a consulta espontânea do que para a estimulada, para se
constatar claramente que a força de Lula provoca o desespero de seus
adversários. Na pesquisa espontânea, quando o eleitor declara sua
preferência sem consultar uma cartela com nomes, o ex-presidente obtém 26%,
praticamente três vezes mais que o segundo colocado nesta modalidade, Jair
Bolsonaro (9%), 13 vezes mais que Marina Silva (2%), enquanto todos os
outros candidatos ficam com apenas 1%. A pesquisa espontânea, quando falta
muito tempo para o pleito, é o indicador mais consistente da solidez de uma
candidatura. Ou seja, Lula é a única força eleitoral realmente viva no quadro
eleitoral e Bolsonaro a encarnação anêmica, porém melhor sucedida, do anti-lulismo.
A
segunda caravana de Lula, que se encerra nesta segunda-feira em Belo Horizonte,
depois de um périplo pelo interior recolhendo apoio e carinho dos mineiros, aponta
para outra realidade indiscutível. Neste Brasil entorpecido pelos efeitos
do golpe e do governo imoral de Michel Temer, só Lula consegue mobilizar o
povo, enquanto Temer e Aécio engordam índices de rejeição Apesar da Lava
Jato e da fuzilaria que ele tem enfrentado, nem partidos, nem sindicatos e
movimentos sociais, e muito menos outros candidatos conseguem, como Lula, tirar
as pessoas de seu recolhimento depressivo para externar a esperança na redenção
do país.
(Merchandising)
Faltando um ano para o pleito, na pesquisa estimulada Lula ganha de todos os
possíveis concorrentes em todos os cenários, e surge cristalina a possibilidade
de vitória em primeiro turno. Ele obtém de 35% a 36%, dependendo do
elenco na cartela, ao passo que Bolsonaro varia de 15% a 18%, também segundo a
variação dos candidatos. Bem depois vem Marina Silva, variando de 8% a 11%, e
na lanterna, embolados (variando de 5% a 7%), Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, João
Doria e Luciano Huck. A inclusão do nome de Huck na pesquisa mostra
o desespero da elite conservadora para encontrar um anti-Lula mais palatável
que Bolsonaro e mais competitivo que os dois tucanos. Mas como não
há tempo para a fabricação deste nome, apesar do experimento com o global
Huck, resta a aposta na inabilitação de Lula, embora isso também não
resolva o problema do outro lado. PSDB, DEM e outros parceiros foram
triturados pela aventura golpista em que se meteram e Lula, mesmo impedido de
concorrer, tem força para alavancar outra candidatura petista levando-a ao
segundo turno.
Se Lula puder ser candidato, em algum momento, assim como ocorreu em 2002, a
elite nacional terá que enfrentar um dilema: ou assimila sua volta, dentro de
um pacto para desatar os nós políticos e econômicos que asfixiam o Brasil,
ou dá um salto no escuro, abraçando um dos candidatos que carecem
das condições básicas para liderar um projeto restaurador. A todos eles
falta algo essencial. Ou projeto, ou legitimidade ou credibilidade.
Lula, até agora, tem mobilizado multidões apenas pregando a revisão dos
retrocessos impostos por Temer e alguns temas laterais, como a regulação da
mídia, que não chegam a motivar o eleitorado. O momento começa a
cobrar também dele a apresentação de um programa mais claro e objetivo, que
contenha as linhas gerais do que faria para realmente unificar o Brasil e
recolocá-lo no leito do projeto interrompido, de crescimento com inclusão e
redução das desigualdades que limitam a construção de uma nação efetivamente
democrática e desenvolvida.
A Fundação Perseu Abramo, do PT, é que tem se ocupado mais desta tarefa mas,
para alargar a candidatura de Lula e sua viabilidade, a construção deste
programa também precisa ser ampliada, incluindo nomes e forças que ultrapassem
a fronteira do petismo. Em 2018, dificilmente Lula firmará uma aliança com
forças de centro, como em 2002. Desta vez, a prioridade será unificar as forças
progressistas, e não apenas a esquerda partidária, na formulação de um programa
que possa funcionar como pilar de uma pactuação contra o atraso
representado pelo golpe e pelo governo que ele produziu.
O que o IBOPE revela, com esta pesquisa, é a força inconteste de Lula e as
razões de seus adversários para se desesperar, apelando até para um Luciano
Huck, que como candidato seria o tipo mais nefasto de out sider:
desprovido de todos os requisitos para o cargo mas apoiado por um colossal
poder midiático, o da Globo.
(*) - Tereza Cruvinel é uma das mais respeitadas jornalistas políticas da País. Publicado em 247, 30/10/2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário